Sobram mulheres no espaço

Coluna de Fabro Steibel com colaboração de Débora Albu no Zero Hora

publicado em

5 de abril de 2019

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Quantas mentes brilhantes desperdiçamos ao não apoiar equidade de gênero na ciência

No dia 29 de março, a Estação Internacional Espacial quase sediou um fato histórico: uma caminhada no espaço composta só por mulheres. A ação foi baseada em meritocracia, não em jogada de marketing, frisou a Nasa. Anne McClain e Christina Koch eram as mais qualificadas para realizar o trabalho. A caminhada, contudo, foi cancelada por motivo quase irônico: falta de roupa. Não havia trajes pequenos o suficiente para lançar duas mulheres no espaço ao mesmo tempo.

A corrida espacial evidenciou um gargalo que vivenciamos na Terra todos os dias, em larga escala: faltam mulheres na ciência e falta ciência para mulheres. Os problemas são diversos e vão da educação infantil à licença-maternidade, de equidade salarial a figuras inspiracionais. São esses gargalos que adiam a entrada de mulheres no espaço, nas empresas, no governo.

Pense em quantas mentes brilhantes estamos desperdiçando ao não apoiar equidade de gênero na ciência. Einstein, Galileu e Copérnico deram contribuições fundamentais para a ciência de hoje. Mas a probabilidade é de existirem a mesma quantidade de gênios entre o público feminino.

Como não lembrar de Marie Curie, a primeira mulher a vencer um Prêmio Nobel, e a primeira pessoa a vencer duas vezes a premiação, por seus avanços em áreas tipicamente femininas (quem sabe um dia!) como radioatividade e química. Vale lembrar ainda a sensibilidade de Curie ao nomear um elemento químico a partir de seu país de origem, destroçado por conflitos políticos. Vida longa ao Polônio, que lemos em todas as tabelas periódicas por aí.

Uma evidência: só um em cada cinco países, segundo a Unesco, tem equidade entre homens e mulheres no campo de Stem, sigla em inglês para os campos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. No Brasil, apenas 14% das cadeiras da Academia Brasileira de Ciências (ABC) são ocupada por mulheres. E como pensar no futuro do trabalho – em carreiras que ainda nem existem – quando apenas 22% dos profissionais que atuam com inteligência artificial são mulheres?

Lembremos de gargalos que precisam de atenção já. Até recentemente, mestrandas e doutorandas não tinham prazo extra para realizarem sua pesquisa em caso de licença maternidade. Mas, como deixa claro a série Explained, da Netflix, o que impacta uma carreira não é a gravidez em si, mas a distribuição da responsabilidade em cuidar dos filhos.

Aos que sugerem que equidade é mimimi ou aos que se dedicam a lutar por equidade com discurso de ódio ou violência, fica uma mensagem pragmática. Precisamos de ciência. E ciência se faz com diversidade. E, às astronautas que não caminharam no espaço por falta de roupa, deixamos um obrigado pela inspiração. O problema é mais em baixo. Aqui em baixo: na Terra.

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