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Coluna semanal de Ronaldo Lemos na Folha de São Paulo

publicado em

25 de agosto de 2020

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Cientista propõe que objeto que cruzou espaço em 2017 foi feito por civilização alienígena

Na desaceleração da pandemia, muita gente foi olhar novamente com atenção para o céu. De forma quase irônica, a natureza reservou uma série de fenômenos celestes justamente para o período de distanciamento social.

Houve a passagem do cometa Neowise, que só retornará à terra daqui a 6.800 anos. Houve alinhamento de Marte, Saturno e Júpiter. Aparição relâmpago de Mercúrio, que ficou visível por 50 minutos a olho nu antes do amanhecer. Eclipse da lua. Chuva de meteoros perseidas e e aquáridas.

E, na semana passada, explosão no céu e queda de meteoritos de até 30 centímetros no sertão de Pernambuco.

Se você não comprou um telescópio ou baixou um aplicativo como o Skywatcher para observar o espetáculo em curso, está perdendo.

O que nenhum aplicativo mostra, no entanto, é o debate atual sobre se houve ou não a identificação da primeira evidência de inteligência extraterreste. Quem propõe o debate é Avi Loeb, diretor do departamento de astronomia da universidade Harvard, autor de mais de 700 estudos na área e membro da Academia de Ciências e Artes dos Estados Unidos.

Em 2012, a revista Time o elegeu como uma das 25 pessoas mais importantes em ciência espacial.

Ele agora defende a hipótese de que o objeto chamado Oumuamua, corpo interestelar vindo de fora do sistema solar que cruzou nosso espaço vizinho em 2017 (e foi detectado por astrônomos no Havaí), pode ter sido construído por uma civilização alienígena. A trajetória do Oumuamua (palavra que significa “explorador” em língua havaiana) é intrigante. O objeto, que tem a forma de um charuto, foi capaz de acelerar a si mesmo.

A hipótese para explicar esse fenômeno até agora é que ele seria composto de hidrogênio sólido, que ao se aproximar do Sol, teria evaporado rapidamente, propelindo o objeto.

Aí entra o estudo publicado na semana passada por Avi Loeb. Ele busca demonstrar que o objeto não era formado por hidrogênio, tanto que não apresentou a típica “cauda” que cometas apresentam ao se aproximar do sol.

Além disso, o objeto não teria sobrevivido à longa distância interestelar percorrida se fosse feito de hidrogênio.

No estudo, que saiu no Astrophysical Journal Letters, Loeb não só contesta a hipótese do hidrogênio, mas levanta outra de que o objeto poder ter sido propelido por uma vela de luz, estrutura artificial que acelera na medida em que é exposta à radiação solar.

O debate será objeto do seu próximo livro, a ser lançado em janeiro de 2021 com o sugestivo título de “O primeiro sinal de vida inteligente fora da Terra”.

Como era de se esperar, a posição de Loeb causou furor e reações violentas. O brasileiro Marcelo Gleiser, colunista da Folha, em entrevista à revista Galileu, disse que “apesar de ter grande respeito por Avi Loeb e conhecê-lo pessoalmente há muitos anos, acho que neste artigo se excedeu”.

Loeb reage dizendo que muitos cientistas se apegam ao cargo e às honras, esquecendo que é preciso se arriscar para ampliar a visão de mundo. Para além das implicações cosmopolíticas de uma possível descoberta com essa, me interessa muito saber se o Oumuamua aceitaria pedidos de carona.

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