A startup que pagava imposto

Coluna de Fabro Steibel no jornal Zero Hora

publicado em

30 de novembro de 2019

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Precisamos urgentemente reformar a maneira como pagamos impostos. A lógica é simples: quanto maior o custo de pagarmos algo, maior a chance de não pagarmos. Inverta a lógica e verá que, se o processo de pagar imposto for simplificado, a arrecadação pública vai subir.

O mundo mudou, mas a sensação é de que o governo ainda nos cobra imposto como se estivéssemos em 1981. Pense em como você paga tributos no dia a dia. Em geral, você recebe uma carta, com algo impresso dentro, que você tem que adivinhar o que está escrito. Se tiver dúvida, há uma grande chance de usar o telefone ou ir pessoalmente para esclarecer o tributo a ser pago.

Agora pense na revolução das fintechs, as startups que inovam no mercado financeiro. Contas de banco sem taxa, maquininhas de pagamento em camelôs, seguros que se contratam com um clique. Não faltam casos de fintechs que inovam na forma como movimentamos dinheiro. Mas, se imposto é dinheiro, por que estamos esquecendo de envolver as fintechs na reforma tributária?

Precisamos incentivar o surgimento das tax techs, startups que solucionam nossos problemas tributários. A ineficiência na forma como pagamos impostos é, na verdade, uma oportunidade bilionária de negócio.

Veja a startup Quinto Andar. Ela pegou o custo transacional de alugar imóveis e gerou uma limonada. Ao resolver o problema do fiador inexistente, da burocracia de contrato, da manutenção do apartamento, tornou-se a imobiliária que mais cresce no país. Veja a Contabilize, que pegou o custo de abrir uma empresa e gerir sua contabilidade e simplificou para a pequena e média empresa. Escritórios de contabilidade e imobiliárias existem há décadas, mas a versão startup desse tipo de empreendimento está aumentando os mercados e reduzindo os custos.

Se o pagamento de impostos for algo fluido, vamos pagar imposto em menos tempo (e tempo é dinheiro) e em maior quantidade. Até o sonegador proposital será combatido, porque o sistema se tornará mais transparente. E na transparência fica difícil se esconder. Sabe que mais vai ficar mais exposto? O governo, porque teremos mais atores fiscalizando como nosso dinheiro é recolhido e utilizado. Pode significar a agenda de governo aberto em velocidade espacial.

As startups que mais crescem são aquelas que traduzem seu modelo de negócio ao redor de uma transação financeira. Esse é o segredo das fintechs, mas é também a velha fórmula dos negócios. Pense no crescimento das Casas Bahia, das Lojas Renner ou do Carnê do Baú para entender melhor. Se o governo for esperto, ele mesmo incentiva esse mercado a florescer. Se não for, o mercado vai ver no imposto uma fonte de renda. E, quando isso acontecer, a reforma tributária vai sair do século passado e entrar no século 21.

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