Brasil na frente dos carros voadores

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S. Paulo

publicado em

9 de novembro de 2021

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Startup criada pela Embraer lança programa de teste-piloto nesta segunda no Rio de Janeiro

Há um fenômeno ainda pouco falado que promete revolucionar a vida nas cidades globais e brasileiras. Trata-se da chegada dos chamados “carros voadores”. O nome técnico não é esse. O certo é eVTOL, sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical. Um dos países que está liderando essa corrida é justamente o Brasil. Isso acontece por causa da empresa startup brasileira Eve, criada pela Embraer como parte do seu programa de inovação.

Um eVTOL muda totalmente o conceito de mobilidade urbana. Por decolar e pousar verticalmente ele permite conectar muitos pontos da cidade de forma rápida, segura e eficiente. A aeronave tem usualmente dez hélices, oito para mantê-la no ar e duas para a navegação. As aplicações são múltiplas: transporte de pessoas, logística, comércio e segurança.

Outra característica desse tipo de aeronave é no futuro não precisar de piloto. A empresa fornece não só os veículos, mas também todo o sistema de operação deles, controlados a distância. Como a propulsão é por motor elétrico, o nível de ruído é muito baixo quando comparado com helicópteros, por exemplo.

A grande vantagem do eVTOL é justamente não depender da construção de infraestrutura física. Por exemplo, seria possível criar uma linha permanente de transporte do centro do Rio de Janeiro até o aeroporto do Galeão com base em uma infraestrutura mais simples que a tradicional (metrô, trens urbanos e corredores de ônibus). O eVTOL precisa só de um “vertiporto” que se conecta diretamente a outros “vertiportos”, com operação permanente das aeronaves entre eles. O custo de infraestrutura é bem menor já que o deslocamento é pelo ar.

Uma série de fatores econômicos e tecnológicos fazem com que esse avanço seja possível já. Desenvolvimento de baterias mais eficientes, inteligência artificial, 5G e comunicação por satélite, além de uma demanda crescente por transporte e logística com zero de emissão de carbono. Além disso, há muito capital entrando nesse setor, o que deve acelerar sua chegada. Por exemplo, a participação da Embraer na Eve está sendo avaliada em US$ 1,2 bilhão. Faz sentido, considerando a trajetória de sucesso da empresa brasileira no desenvolvimento e certificação de aeronaves. Além disso o cenário regulatório brasileiro é favorável, já que a Anac está acompanhando diretamente esse desenvolvimento.

Tanto é que a Eve está lançando um programa de teste-piloto que começa nesta segunda (8) no Rio de Janeiro. Até o dia 8 de dezembro será possível voar do aeroporto do Galeão até a Barra da Tijuca (no Centro Empresarial Mario Henrique Simonsen) e vice-versa por meio de uma linha “circular” ao custo de até R$ 99 por trajeto. A operação ainda não vai ser feita por um eVTOL, mas sim por helicóptero. A ideia da empresa é fazer uma prova de conceito da operação dessa linha e avaliar a demanda por um serviço similar. Além disso, nos pontos de partida vai ser possível visualizar um eVTOL em funcionamento por meio de uma estação de realidade virtual.

Estamos em um momento em que quando se fala de Brasil um dos últimos atributos que vêm à mente é a ideia de inovação. A Embraer e a Eve são uma nobilíssima exceção.

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