Esqueça a geração Z: a geração que está emergindo é a da paralisia

Leia a coluna de Ronaldo Lemos para Folha de S.Paulo

publicado em

31 de maio de 2022

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Enquanto China vê crescimento da geração Tang Ping , termo que significa 'ficar deitado', Brasil lida com geração Nem-Nem

Há algo de errado. O mundo tornou-se um lugar inóspito para jovens. Quem tem entre 15 e 35 não está em situação invejável, tanto do ponto de vista econômico como social.

Falta de emprego, ausência de perspectivas de mobilidade social e um vazio existencial crescente caractarizam um novo tipo de juventude. Esqueça termos marqueteiros como “millennials” ou “geração Z” que querem apenas vender algo ou dourar a pílula. A geração que está emergindo é na verdade a geração paralisia.

O fenômeno é visível em várias partes. Por exemplo, a China está enfrentando o crescimento da geração chamada Tang Ping (躺平). O termo significa “ficar deitado” e se refere a um contingente de jovens cujo mote principal da vida é não fazer nada. A ideia é recusar-se a trabalhar ou a estudar e simplesmente deixar o tempo passar.

O fenômeno agravou-se recentemente com o surgimento da geração Bai Lan (摆烂). O termo significa “deixar apodrecer”. E indica exatamente isso, não só não fazer nada, mas também um desejo de que a condição de vida se degringole e saia dos trilhos.

O fenômeno não é específico da China. O Brasil tem lidado há anos com o problema da geração Nem-Nem, que nem estuda nem trabalha. No Brasil o número de integrantes dessa geração é o dobro dos países desenvolvidos, de acordo com dados da OCDE. Em 2020 havia cerca de 36% de pessoas na faixa entre 18 e 24 anos sem emprego e sem qualquer atividade educacional. Na média da OCDE esse percentual é de 15%.

Esse fenômeno leva a alienação, solidão, desagregação social e perda de sentido. Boa parte desse tempo livre pode ser ocupado por mídias sociais, considerando que essa geração não tem trabalho, emprego ou escola, mas tem sua capacidade de atenção intacta, podendo ser capturada por conteúdos digitais.

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos com pessoas entre 23 e 38 anos revelou que 22% dos entrevistados afirmaram ter “zero amigos”; 27% afirmaram não ter nenhum amigo próximo e 30% afirmaram viver com um sentimento permanente de solidão.

Outra expressão também originária da China descreve uma outra dimensão desse fenômeno: “geração morango”. Um contingente de jovens que busca se destacar ou ganhar a vida projetando sua imagem pessoal. Mas tal como um morango, podem ser bons de ver mas são fáceis de serem esmagados. Não possuem controle real nenhum.

Esse é o paradoxo. Em um momento de hiperconexão por meio de redes sociais, as pessoas estão mais do que nunca desconectadas. Quem interage com o feed de uma rede social na verdade interage com fantasmas. Nada daquilo diz respeito diretamente a você. É uma forma de comunicação que serve mais para iludir e desagregar do que criar laços humanos que sejam reais e duradouros.

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