Ao divulgar seu algoritmo, plataforma tornou-se mais transparente

Em meio à confusão que se tornou o Twitter, aconteceu uma coisa extraordinária no último dia 31 de março. A empresa publicou na íntegra o código do seu algoritmo na internet.

Só para recapitular, o algoritmo é o conjunto de regras que define como um determinado conteúdo na plataforma vai ser priorizado ou disseminado. É uma espécie de “Código Da Vinci” da viralização. Ele decide se seu tuíte vai ser medíocre ou se vai ser mostrado para milhões de pessoas.

Não por acaso as grandes plataformas mantêm seus algoritmos escondidos. Tratam esses códigos como um segredo industrial no estilo da fórmula da Coca-Cola. Só que o Twitter mudou de rota e tornou sua fórmula pública. A decisão é tão importante que, quando vi, achei que pudesse ser algum tipo de brincadeira de 1º de abril. Mas o movimento é real.

Transparência de algoritmos é um dos temas mais importantes e pouco discutidos do mundo atual. Especialmente porque nossas vidas são cada vez mais governadas por algoritmos.

Quando alguém pede um táxi por aplicativo, é o um algoritmo que decide quem será o motorista. Quando alguém busca conhecer alguém pelo celular, é o algoritmo que pode levar a pessoa a encontrar o amor da sua vida, ou um serial killer. Muito do nosso cotidiano acaba sendo definido por algoritmos.

Só que praticamente não há transparência para esses conjuntos de regras. Nem no setor privado, nem no setor público. Por exemplo, o Poder Judiciário usa algoritmos para definir qual juiz será responsável por cada processo. Esses algoritmos, por mais simples que possam ser, podem ter impacto profundo na vida das pessoas. Eles não são públicos nem auditáveis. Deveriam ser. Nesse sentido, o Twitter tornou-se mais transparente hoje do que boa parte do poder público que usa algoritmos.

Há mudanças legislativas pelo mundo exigindo transparência. Na Europa, a chamada “Lei de Serviços Digitais” criou obrigações de explicar como os algoritmos das plataformas funcionam. Na China, regras recentes criaram até um registro público de algoritmos, obrigatório para várias empresas.

Mas afinal, como funciona o algoritmo do Twitter? Será que meu tuíte vai viralizar? Seguem algumas regras do código publicado. Por exemplo, amantes das hashtags vão se decepcionar. Incluir muitas hashtags em um tuíte leva ele para baixo. Já se você incluir uma foto ou vídeo, pode multiplicar seu alcance por dois.

O código revela que contas verificadas têm alcance maior. Já as contas que seguem mais pessoas do que são seguidas têm seu alcance diminuído. Itens que aumentam o alcance: postar notícias e tópicos que estejam em ascensão nos “trending topics”. Itens que diminuem o alcance: tuítes sem texto, só com links ou um nome.

Outro fator importante é a quantidade de “likes” recebidos. Eles ampliam o alcance 30 vezes mais do que respostas a um tuíte. Vale notar que o Twitter mantém uma lista de tópicos que são proibidos na plataforma —se mencionados a conta perde reputação e alcance.

Além disso, há uma regra no estilo “diga-me com quem tu andas”. Se a sua conta interage com contas de baixa reputação, perde reputação também. E, claro, qualquer tuíte feito por Elon Musk pertence a uma categoria especial, só dele, que pode ser governada por regras distintas.

Em outras palavras, a melhor dica para viralizar no Twitter é ser o dono da plataforma.

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