‘Nuvem é chão de fábrica’: como pane na Amazon realça internet invisível

Coluna de Carlos Affonso Souza no Uol Tilt.

publicado em

21 de outubro de 2025

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Uma pane na AWS deixou diversos serviços online, como comércio eletrônico e games, fora do ar, expondo a parte invisível da infraestrutura da Internet

Na manhã de hoje alguns dos principais aplicativos e serviços acessados na Internet estavam fora do ar ou apresentaram erros no seu funcionamento. A falha atingiu do comércio eletrônico a alguns dos games mais populares, de serviços de IA até plataformas de streaming.

A raiz do problema estava em uma falha em servidores da Amazon Web Services (AWS), a gigante de computação em nuvem da Amazon que sustenta uma fatia considerável da infraestrutura digital global.

A AWS confirmou problemas em sua operação no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, região conhecida por abrigar muitos data centers que conectam usuários com serviços no mundo todo, além de rodar o processamento de aplicações de inteligência artificial.

Em algumas horas os serviços começaram a ser restabelecidos e para os usuários da Amazon, Roblox, Fortnite, Mercado Livre, dentre outros, parece que vida que segue. Mas vale fazer uma pausa para refletir sobre como esses episódios de apagão digital atingem a nossa percepção sobre o funcionamento da rede, revelando uma parte da Internet que é invisível o grande público.

A Internet invisível

A maioria das pessoas conhece a marca Amazon através do site de comércio eletrônico, que foi pioneiro na venda de produtos físicos através da rede. A AWS, menos conhecida do público em geral, é responsável por uma fatia crescente do faturamento global do grupo e responde por cerca de 30% do mercado global de computação em nuvem. É nela — e em concorrentes como Microsoft Azure e Google Cloud — que rodam desde redes sociais até sistemas bancários, games e lojas virtuais.

Isso significa que, quando há uma falha, a pane não se limita a um aplicativo específico, mas a toda uma cadeia de serviços interdependentes. A nuvem, afinal, é o “chão de fábrica” da Internet — só que um chão feito de servidores, data centers e cabos submarinos, que a maioria dos usuários nem percebe que estão lá.

Quando essa base vacila, os reflexos se espalham rapidamente. Diversas empresas, mesmo sem relação direta entre si, compartilham a mesma infraestrutura de nuvem. Um problema técnico em uma única região da AWS pode interromper sistemas em dezenas de países.

Do CrowdStrike à AWS

Essa não é a primeira vez que o backstage da Internet dá o ar da graça nas manchetes sobre instabilidades globais e apagões digitais. Em julho de 2024, uma falha em uma atualização da CrowdStrike, empresa de cibersegurança, causou um apagão global em milhões de computadores que rodam Windows. Aeroportos pararam, hospitais suspenderam atendimentos e companhias aéreas tiveram voos cancelados.

O elo entre o caso da CrowdStrike e o da AWS é justamente essa invisibilidade das empresas que fazem a rede funcionar. Seja provendo infraestrutura ou segurança, esses atores são essenciais para o funcionamento da Internet moderna, mas só ganham notoriedade quando as coisas dão errado.

O elo entre o caso da CrowdStrike e o da AWS é justamente essa invisibilidade das empresas que fazem a rede funcionar. Seja provendo infraestrutura ou segurança, esses atores são essenciais para o funcionamento da Internet moderna, mas só ganham notoriedade quando as coisas dão errado.

Um bom dia para sair das redes

Vivemos com a expectativa de que a Internet simplesmente “funcione”. E quanto mais a nossa vida depende de serviços acessíveis pelo meio digital, mais o impacto de um apagão como o da AWS é sentido no dia a dia.

Esses apagões servem como lembrete de que a conectividade global é sustentada por uma arquitetura complexa, dependente de poucas empresas e de uma cadeia de confiança que opera 24 horas por dia. Quanto mais integrada, mais vulnerável se torna.

Enquanto as telas dos aplicativos não carregavam, não faltou quem lembrasse que esse era um bom dia para sair das redes e ir ver o sol. Má notícia para o paulistano que enfrentou uma das madrugadas mais frias dos últimos anos.

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