5G, GovTech e home office

Coluna de Ronaldo Lemos publicada na Folha de São Paulo

publicado em

2 de março de 2021

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Notícia mais importante de semana quente foi o edital ambicioso da Anatel

A semana foi quente com relação a tecnologia. Precisaria de três colunas para dar conta de tudo.

A notícia mais importante foi a aprovação do edital que permitirá o avanço do 5G no Brasil. Em uma votação controversa de 3 a 2, a Anatel chegou à formulação final do texto. O edital é ambicioso. Quer que as capitais brasileiras tenham 5G operacional já em 2022. Na sequência, o 5G deve seguir para cidades com mais de 500 mil habitantes. E, até 2029, para todas as cidades pequenas.

Uma novidade é que Anatel decidiu que o padrão brasileiro deverá ser o chamado “standalone”, que é uma versão puro-sangue do 5G. Essa versão precisa ser construída, grosso modo, de forma independente das redes de 4G existentes.

A vantagem é que o 5G brasileiro terá força total, funcionando com a tecnologia mais avançada que existe.

Esse modelo abre caminho também para que pequenos provedores, inclusive no interior, possam participar do fornecimento do 5G.

A desvantagem é que o modelo pode implicar mais custos. No entanto, a expectativa é que esses custos sejam abatidos dos valores das faixas de radiofrequência que serão leiloadas. A ver.

De qualquer forma, essa é uma excelente notícia, especialmente porque o Brasil está atrasado na implementação do 5G. Quanto antes a tecnologia chegar, melhor.

O prazo definirá se o país se tornará produtor de inovações sobre o 5G ou apenas consumidor delas, como de costume. Quanto antes o 5G chegar, maior a chance da primeira hipótese. Quanto mais demorar, maior a chance da segunda.

Outro ponto importante da semana passada foi a aprovação da “Lei do Governo Eletrônico”. Trata-se de legislação ampla que permitirá acelerar a migração dos serviços públicos para plataformas digitais.

Vale lembrar: governo que não se converte em plataforma tecnológica perde a capacidade de governar. O texto aponta nesse sentido.

No entanto, trouxe um texto de última hora —um jabuti— que causou surpresa em alguns, revolta em outros. A lei passa a permitir que entes governamentais cobrem pelo acesso ao dado público quando o acesso ocorrer em larga escala.

Essa ideia nem é de todo ruim, mas, da forma como foi redigida, pode criar uma corrida rumo ao fundo do poço no país.

Se cada gestor de banco de dados puder arbitrar o preço e a modalidade de cobrança de forma independente, o efeito será fechar o acesso aos dados públicos para fins de inovação. O texto da lei segue para sanção presidencial, que poderá ou não vetar o jabuti.

Para terminar, a edição de fevereiro da revista Wired traz um belo texto do ensaísta Paul Ford sobre tudo o que perdemos quando o trabalho migra para home office. O texto é um elogio ao escritório, sua cultura e dinâmicas próprias. Mais do que isso, é um relato emocional.

Quem já trabalhou em escritório vai se identificar quando o autor afirma que “em todo escritório existe um lugar para chorar”. Ele não está escrito no projeto, mas é criado pela vivência: uma escada, a cabine do banheiro, uma varanda.

Quem trabalha ali sabe. Esses lugares e encontros não escritos, não projetados, são parte do que perdemos com o home office. E acredite: fazem falta.

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