A Apple quer por um computador na sua cara

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S.Paulo.

publicado em

15 de junho de 2023

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    Lançamento do Vision Pro mostra que empresa quer criar um novo modelo de computação pessoal

    Quem apostava que o “metaverso” estava morto teve de engolir a seco nesta semana com o lançamento do Apple Vision Pro. Para a surpresa de muitos (inclusive dos concorrentes) a empresa está lançando um visor de realidade aumentada para ser usado no rosto. A ambição é produzir uma experiência totalmente imersiva, com impacto não só na área de entretenimento, mas também na educação e na forma como interagimos com pessoas e ambientes.

    Como o “metaverso” e seus apetrechos andavam em baixa, ofuscados pelo interesse em inteligência artificial, a empresa adotou uma estratégia ousada para o lançamento do novo produto. Colocou o preço do visor em US$ 3.499. Mais caro que muitos dos laptops mais avançados da empresa. A ideia é gerar desejo de consumo através do preço. Ao lançar o produto primeiro para as elites globais que têm dinheiro sobrando para investir em um caríssimo visor de realidade aumentada, a expectativa é disseminar a ideia de que se trata de um produto exclusivo, de “luxo”.

    A estratégia não é inédita. Elon Musk fez a mesma coisa quando lançou o primeiro carro da Tesla, com o preço de US$ 109 mil. A ideia era conferir aos carros elétricos, na época vistos como uma curiosidade utilitária, a ideia de objeto exclusivo, na mesma faixa de marcas de “alto luxo”.

    A ambição da Apple vai além de tornar a realidade aumentada desejável. A empresa quer criar um novo modelo de “computação pessoal”. Vale lembrar que a empresa esteve desde o início na fronteira da disseminação da ideia de que as pessoas deveriam ter um computador individual. Nos anos 70, gente como Ken Olsen, diretor da principal empresa que fabricava mainframes (computadores que ocupavam o tamanho de uma sala inteira) chegou a afirmar: “não existe qualquer razão para que uma pessoa tenha um computador em sua casa”. A Apple provou que ele estava totalmente equivocado.

    Agora a Apple quer provar que existem todas as razões do mundo “para que uma pessoa tenha um computador na sua cara”. É exatamente disso que se trata o Vision Pro, um computador inteiro com capacidade de processamento avançada colocado preso na nossa cabeça, em frente aos olhos.

    E para que serve todo esse processamento? A Apple criou sensores que são capazes de analisar micromovimentos dos nossos olhos, inclusive a movimentação das pupilas. Com esses sensores o Vision Pro permite controlar os aplicativos com o próprio movimento dos olhos. Quem usou diz que é como se o aparelho adivinhasse os comandos, em interface direta com o cérebro. Além disso, os comandos são dados pelos dedos, também observados pelo aparelho sem a necessidade de nenhum botão. Quer clicar em alguma coisa? Encoste o indicador no polegar e o aparelho visualiza o gesto e abre o aplicativo que você está olhando.

    Os detratores já estão dizendo que a Apple construiu a máquina de vigilância mais íntima existente. Afinal de contas, monitorar o movimento dos olhos é o “Santo Graal” do neuromarketing. E vale sempre lembrar que a Apple coloca-se como defensora da privacidade da porta para fora, inclusive bloqueando cookies de outras empresas, mas da porta para dentro os termos de privacidade da empresa são os mais vagos do mercado, como apontou pesquisa realizada por John Batelle na Universidade de Columbia. O Vision Pro vai dar certo? Vamos todos visualizar nos próximos meses.


    Já era – Metaverso

    Já é – Ressurreição da ideia de metaverso por causa do novo produto da Apple

    Já vem – Sucesso do Vision Pro vai depender da quantidade de desenvolvedores independentes de aplicativos que apostarem no aparelho

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