A “Universidade do Espaço” e a necessidade de modelos híbridos de ensino

Coluna de Fabro Steibel no jornal Zero Hora

publicado em

16 de outubro de 2020

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Modelos atuais de educação superior são limitados, o que foi devidamente escancarado pela pandemia

A Estação Internacional Espacial (ISS) está estudando lançar a Universidade Orbital. O projeto está em fase bem inicial,  mas já mostra o quanto o modelo de universidade aqui na Terra é limitado. Falta a universidade, no Brasil e no mundo, aprender com as lições que nos levaram à órbita. Uma delas é justamente usar a Internet para avançar nos desafios do milênio.

Se há uma coisa que o COVID-19 nos ensina é que modelos híbridos precisam ser adotados por todos, com urgência. Modelo híbrido é a forma de pensar o mundo considerando o mundo físico e o mundo digital como lados da mesma moeda. Pensamento híbrido é deixar de falar em “educação online” ou “ensino à distância” para pensar em “ensino”. É parar de imaginar sala de aula para pensar em espaço de aprendizagem, online ou não. 

As universidades são pouquíssimo abertas ao digital, quiçá ao pensamento híbrido. Prova disso é o quanto as faculdades (mesmo aquelas com anos de experiência em Ensino à Distância) suaram para não perder o ano acadêmico no primeiro semestre. No corre-corre de escolher plataformas para dar aulas online, e de saber quem tinha internet suficiente em casa, demos nosso jeitinho brasileiro. Mas ninguém estava preparado para usar internet para o ensino. Ninguém.

Se temos coworking de escritórios, por que não temos co-laboratórios de medicina? Se temos marketplaces de saúde ou de eletrônicos, porque não temos o mesmo de cientistas? Se temos home schooling para menores de idade, porque tão poucos professores usam ferramentas como Miro e Trello para “prototipar” soluções com os alunos entre as aulas. Mesmo as férias da graduação, realizadas por duas vezes por ano, poderiam ser híbridas. Até porque as aulas param mas a pesquisa não. Com isso, deixamos de ocupar o campus com mais pessoas, justo quando temos espaço para promover inclusão. 

A ISS orbita sobre as nossas cabeças com 6 cosmonautas por vez. O que ela nos ensina sobre universidades? Primeiro, que tudo que é teórico deve ser prático, aplicado. Exatas ou filosofia, a ciência espacial usa de tudo. Segundo, que países podem colaborar. Se na Guerra Fria todos trabalham em separado, a governança da ISS já é compartilhada (inclusive com o setor privado). E por fim, a ISS é pensada com cabeça de interoperabilidade. Assista ao filme Apollo 13, com Tom Hanks, para entender o conceito, e como um parafuso sem interoperabilidade nos fez fracassar na última tentativa de pisarmos na Lua. 

O exercício da Universidade Orbital está só no começo, e é acompanhado de dois outros desafios, um relacionado à criação de negócios e outro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A solução criada deve funcionar como um satélite, uma plataforma, de conexão de atores e práticas. A Universidade Orbital não será um campus no Espaço (a tecnologia não nos permite isso). Mas ela já nos ensina que nosso sistema de educação precisa dar mais voltas na órbita para se inspirar, e ser diferente. Para o infinito e além, onde nenhuma universidade jamais esteve.

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