Ação do Twitter contra Musk é novo reality

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S.Paulo

publicado em

20 de julho de 2022

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Documento da empresa é a peça de entretenimento mais divertida dos últimos tempos

A peça de entretenimento mais divertida e interessante dos últimos tempos não é um filme, nem série, nem show. É o documento apresentado pelo Twitter na ação que a empresa move contra o bilionário Elon Musk por ter se recusado a seguir em frente com sua oferta de compra.

A peça é não só interessante e bem-feita como divertida de ler. Tem drama, humor, ironia e um supervilão. Funciona como o primeiro episódio bombástico de um reality show que provavelmente irá durar por muito tempo.

A primeira coisa que chama a atenção no documento é sua clareza e narrativa enxuta. Diferentemente da língua falada por advogados e juízes no Brasil, que é propositalmente difícil e falsamente rebuscada, a reclamação do Twitter é de uma precisão invejável. Isso ilustra não só a tradição legal dos EUA —que é mais simples e acessível de fato do que a brasileira— como também um desejo de que o texto seja lido por muita gente, inclusive por não advogados.

Em outras palavras, para vencer o Twitter, vai precisar ganhar corações e mentes em uma batalha que é fortemente legal, mas tem também um componente político.

Em suma, Musk ficou com uma caveira de burro nas mãos. Assumiu a obrigação de comprar uma empresa por um valor US$ 17 bilhões acima do mercado. Além disso, viu derreter as possibilidades de conseguir financiar sua oferta para conseguir pagar o preço total de US$ 44 bilhões.

Em outras palavras, Musk cometeu um erro grosseiro. Era previsível uma alta de juros no horizonte. Para se livrar da obrigação de seguir em frente, alega agora que o Twitter não apresentou dados necessários para a compra, incluindo um balanço do número de contas falsas e robôs na plataforma.

O documento apresentado pelo Twitter demole cada argumento de Musk. É um texto que pinta o empresário como um bilionário irresponsável. Chega a dizer que sua “tentativa de fugir do negócio é um modelo de hipocrisia”. De fato, a aventura malsucedida de adquirir o Twitter mergulhou a empresa no caos, levando à saída de funcionários e executivos. Além disso, só aumentou a queda das ações da empresa.

O que poderá acontecer no futuro? O preço do Twitter baixou tanto que há a possibilidade de outro proponente aparecer para comprar a empresa. Não seria algo surpreendente no cenário atual.

Outra possibilidade é o caos causado por Musk tornar o Twitter progressivamente inviável, levando a uma perda crescente de mercado. Um acordo também é possível.

Seja lá o que acontecer, Musk arrumou uma dor de cabeça. Talvez essa ação sirva para definir alguns limites para o que bilionários incautos podem fazer.

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