Amazônia precisa de fibra ótica já

Coluna semanal de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo

publicado em

29 de agosto de 2023

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Empresa de Elon Musk leva conexão via satélite à região, mas não basta para conectar todos a internet

Pensar a Amazônia sob o prisma da tecnologia e da economia do conhecimento é um exercício interessante. Estou nessa tarefa por causa da gravação da 7ª temporada do Expresso Futuro, que desta vez acontece na região.

De cara dá para ver que existem mudanças em curso. Até porque agendas positivas para a Amazônia voltaram ao ciclo de interesse no Brasil e no exterior.

Para compreender processos tecnológicos é preciso sempre pensar em ao menos quatro camadas: infraestrutura, hardware, software e conteúdo. Todas estão em movimento na região amazônica, sendo a primeira a que está mudando mais rápido.

A chegada da Starlink, de Elon Musk, está levando conexão à internet para pessoas nos lugares mais remotos. Antes disso, a infraestrutura de conexão já avançava na região, mas devagar, com uso de satélites geoestacionários da empresa Hughes e a instalação de fibras óticas ao longo do curso dos rios. A chegada da Starlink mudou o jogo. A empresa caminha para se tornar dominante em boa parte da região.

A consequência disso é que expandir o acesso à internet na Amazônia torna-se questão prioritária. A região não pode depender de um prestador dominante.

A resposta que precisa ser dada é clara: mais conexão, com a aceleração da instalação de fibra amplamente. Só que agora com total urgência e pensando também na chegada do serviço para o usuário final, fomentando provedores locais competitivos e de alta qualidade.

A Starlink precisa ser celebrada, mas é também um sinal de alerta para que o Brasil pare de titubear quanto a conectar a Amazônia. Sua chegada nos lembra que, agora, ignorar essa questão é chocar um ovo da serpente no país.

Com relação à camada de hardware, há muito também acontecendo na região. A começar pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Além do seu campus ser um dos mais impressionantes do mundo, integrado à uma reserva de floresta nativa de mais de 600 hectares em Manaus, há muitos projetos vindo de lá. Por exemplo, a pesquisa de nanopolímeros feita no laboratório do professor Edgar Sanches, a partir de materiais da região.

Há tanto materiais de aplicação industrial quanto medicinais, como um “bandaid” feito com polímeros vegetais com propriedades curativas.

Já em software, há o relevante trabalho feito pelo professor Edleno Moura em ciência da computação com viés de aplicação prática. Várias startups brasileiras possuem conexão com seu trabalho e seu laboratório na Ufam tornou-se um hub de desenvolvedores para empresas também do Sudeste, muitas delas unicórnios com nomes conhecidos.

Na camada de conteúdo é interessante o trabalho feito sobre games na Universidade do Estado do Amazonas a partir do Ludus Lab. Trata-se de um laboratório interdisciplinar que reúne pessoas de diversas formações pensando na construção de jogos. De programadores a designers, de escritores de narrativas a compositores musicais.

Como dizia McLuhan, o conteúdo da mídia nova é a velha mídia. Os games são exemplos disso: absorvem o cinema, a música, o teatro, os textos etc. Para desenvolvê-los de forma competitiva é preciso sempre um esforço multidisciplinar. O Ludus Lab está apostando nisso.

Em suma, com velocidades diferentes, a região amazônica está construindo as bases para ampliar sua participação na economia do conhecimento, a economia das pessoas e das ideias. Esse certamente é um caminho sustentável.


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