Audrey Tang, maior nome da democracia digital, está no Brasil

Coluna de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo.

publicado em

25 de junho de 2024

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Ex-ministra de Tecnologia Digital de Taiwan mostra que outro caminho é possível para a internet, fora de fake news, algoritmos interesseiros e polarização

No momento em que este artigo é publicado, está no Brasil Audrey Tang, a ex-ministra de Tecnologia Digital de Taiwan. Audrey vai visitar o Rio neste domingo (23) e Brasília na segunda (24).

Ela é uma celebridade. Foi capa da revista Wired, além de figurar em programas de TV e jornais pelo mundo. A razão é inusitada: Tang é o maior nome do planeta quando o assunto é democracia digital.

Conforme escreveu no The New York Times: “A democracia melhora quanto mais as pessoas participam. E a tecnologia digital permanece como um dos melhores caminhos para promover participação, desde que seja usada para encontrar consensos, e não divisão”.

Tang mostra que um outro caminho é possível para a internet, diferente da prevalência das fake news, dos algoritmos interesseiros e da polarização. De 2016 a 2024, ela construiu ferramentas impressionantes para responder a tudo isso aperfeiçoando a democracia.

Por exemplo, na pandemia, combateu a desinformação e coordenou digitalmente a resposta à doença. O resultado: Taiwan teve apenas sete mortes e 455 casos de Covid, em uma população de 24 milhões de pessoas.

Criou uma consulta nacional sobre o que fazer com o Uber quando o aplicativo entrou em Taiwan. Construiu uma plataforma que tornou o Poder Judiciário mais aberto e transparente no país. E neste ano, lançou uma consulta sobre como regular a inteligência artificial.

Audrey é uma exímia programadora e se tornou a líder improvável da construção do futuro da democracia. Sua tese é de que enquanto o mundo caminha para a centralização, é possível responder a essa tendência com cada vez mais participação.

Ela não está sozinha no Brasil. Quem a acompanha é Glen Weyl, o economista americano que escreveu o livro “Radical Markets” (Mercados Radicais), chamado de “acachapante” pela revista The Economist. Weyl morou no Rio, na favela do Vidigal, onde gestou várias das suas ideias (inclusive uma proposta para reformar o mercado imobiliário).

Audrey e Weyl estão lançando juntos um novo livro, chamado “Plurality” (Pluralidade), que pode ser baixado gratuitamente online. O livro apresenta um diagnóstico detalhado de como a tecnologia acabou se tornando uma ameaça para a democracia.

Analisa também o impacto que a inteligência artificial terá sobre as instituições e como o contrato social está sendo dinamitado. A partir daí o livro constrói um vigoroso programa de ação sobre como reverter essas tendências negativas.

No centro de tudo está a ideia de pluralidade. Enquanto a centralização é empobrecedora, a pluralidade é sofisticada e capaz de gerar respostas complexas para problemas igualmente complexos.

A leitura é revigorante. O livro nos lembra que o Brasil já foi ambicioso em pluralidade. Por exemplo, criamos o orçamento participativo, que hoje é usado de Dubai a Nova York. A própria Constituição de 1988 contou com a participação de mais de 72 mil contribuições enviadas por correio na sua formulação. Ou ainda, o Marco Civil da Internet, que foi construído online de forma aberta, transparente e colaborativa.

Como diz Audrey Tang: “Quando falarem internet das coisas, fale internet das pessoas. Quando falarem realidade virtual, fale realidade compartilhada. Quando falarem aprendizado de máquina, fale aprendizado colaborativo. Quando falarem singularidade, fale pluralidade.”

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