Banco do Vale do Silício ruiu em 48 horas

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S.Paulo.

publicado em

15 de março de 2023

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Há rumores de que muitas empresas start-up não conseguirão honrar o pagamento dos seus funcionários

A semana passada pode ser descrita como catastrófica para a parte financeira dos projetos de tecnologia. O Silicon Valley Bank (SVB), que existe há 40 anos e é utilizado sobretudo por investidores de capital de risco e empresas start-up, foi à falência durante uma crise que durou pouco mais de 48 horas.

Vale notar inclusive que o Banco do Vale do Silício é fortemente utilizado por empresas brasileiras e fundos de investimento originados no Brasil. Este início de semana será decisivo. A partir desta segunda-feira (13), será o dia em que muitos investidores, acionistas, dirigentes de empresa e funcionários serão avisados do tamanho real e potencial do estrago que a derrocada dessa instituição financeira causou.

Há rumores de que muitas empresas start-up não conseguirão honrar o pagamento dos seus funcionários, justamente por conta de ter boa parte dos seus recursos depositados no banco que ruiu. Mais do que isso, há projetos de criptomoedas estáveis lastreadas no dólar (stablecoins) cujo lastro, na ordem de US$ 3 bilhões, estava também depositado no banco.

O temor é que haja a possibilidade iminente de que esses projetos também colapsem. A título de exemplo, uma stablecoin que representa US$ 1 estava sendo vendida a US$ 0,96 no sábado, um péssimo sinal.

Sempre que uma instituição dessa magnitude vai ao chão existe o risco do temido “fallout”. O termo diz respeito às partículas radioativas que são carregadas pelo ar depois de um acidente nuclear. Dias, meses ou até anos depois que o acidente aconteceu, o fallout continua a gerar efeitos trágicos, muitas vezes em lugares inesperados e remotos com relação ao epicentro do evento.

No caso, o SVB era o 16º maior banco dos Estados Unidos, o que não é pouca coisa. O risco de fallout torna-se ainda maior dado o efeito de rede entrelaçada que caracteriza o setor de tecnologia. Além disso, a escassez de liquidez que assola esse mercado.

Nesse sentido, por conta dos juros elevados em dólar e da queda significativa nos últimos meses do valor das empresas de tecnologia, qualquer realização de ativos nesse momento significa também a realização de prejuízos.

O que vai acontecer agora? O SVB era uma instituição regulada e garantida pelo FDIC, instituição federal que assegura depósitos nos EUA. No entanto, o FDIC só assegura US$ 250 mil de cada depósito. No caso do SVB, mais de 90% dos depósitos superavam esse valor. Em outras palavras, é totalmente incerto qual o percentual e quando os valores não assegurados pelo FDIC seriam pagos. A esperança é que o SVB possa ser comprado por um banco maior, que assumiria seus créditos e débitos, restaurando segurança ao mercado.

Vale notar que na mesma semana um outro banco (menor) também colapsou, o Silvergate, ligado a transferências financeiras no mercado de cripto. O que chama a atenção no caso do SVB é a velocidade do efeito manada. Esse efeito foi criado principalmente por grandes fundos de capital de risco que, ao se depararem com a potencial crise do banco, dispararam mensagens para todas suas empresas investidas para que tirassem o dinheiro de lá o mais rápido possível. Isso gerou um frenesi na última quinta-feira (9) e às 12h de sexta (10) o SVB sucumbiu.

Tudo isso serve de alerta para o momento que estamos vivendo. Não está tranquilo, não está favorável.


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