A tendência é o "prédio da firma" desaparecer ou diminuir de tamanho. Acontece que o trabalho remoto é uma alternativa problemática

O home office costumava ser um dia esperado na semana: podíamos ficar em casa e trabalhar confortáveis, perto da família. Costumava. Agora que todos devem ficar em casa, e continuar trabalhando, o home office se tornou o temível “office home”. Se antes o desejo era trabalhar sem sair de casa, agora o pesadelo é conseguir sair do trabalho mesmo estando em casa.

O conceito de home office é coisa do século XXI e dependeu da popularização do computador pessoal, da Internet e do celular para ser realidade. O termo até existia antes, mas com outro sentido. Em 1792 o governo inglês, por exemplo, chamou de Home Office o ministério criado para cuidar  dos assuntos domésticos de Estado. Nada mais distante de como organizamos nosso cotidiano e filhos durante a pandemia.

Em 2020 o home office virou regra e não mais exceção. Segundo dados dos Estados Unidos, em torno de um terço das pessoas pessoas praticavam o home office antes da pandemia. Em abril, no auge do alarde, da noite para o dia mais um terço de trabalhadores se juntou a massa de pessoas que trabalham de casa. Um horda de pessoas.

No Vale do Silício (e aqui também) já é bem visto ter na empresa o funcionário que nunca irá ao escritório. Twitter e Facebook já anunciaram que o home office permanente está permitido, e é até bem-vindo. Por aqui fintechs já abrem vagas permanentes – em plena pandemia – para quem quiser trabalhar sem nunca “ir” trabalhar.

As cidades devem sentir o impacto dessa mudança e a tendência é o “prédio da firma” desaparecer ou diminuir de tamanho. No Brasil 90% das empresas de serviços já declararam aceitar o trabalho remoto intermitente, o que na prática vai deixar escritórios no pós-pandemia mais vazios. Além do que, quem se planeja no mercado sabe que a pandemia deve ir até (pelo menos) 2022, e que ter 10 mil pessoas chegando, almoçando e saindo em horários sincronizados é um risco grande a se tomar.

O problema é que para empresas o home office é uma alternativa igualmente problemática. Nada mais desastroso para segurança de internet do que ter redes domésticas circulando dados sigilosos ou cadeiras nada ergométricas favorecendo lesão por esforço repetitivo. Como sair dessa sinuca? Misturando o melhor de cada mundo.

Veremos crescer por exemplo grandes empresas ocupando andares nos prédios de coworkings. O “coworking office” permitirá o escritório estar mais próximo do espaço doméstico, mas fora da sala de jantar. O home office tende a ser valorizado, mas como opção, e atividades presenciais como linhas de montagem e indústrias tendem a continuar em prédios imensos.

Para os urbanistas vem aí um desafio: precisaremos adaptar o transporte público, o comércio local, o suprimento de lazer e educação. Para quem é humano, e tem filhos, tenha calma. Em breve você terá sua casa de volta. E para quem está sem casa ou trabalho, a boa notícia é que áreas periféricas da cidade acabam de se tornar (pelo menos em teoria) mais valorizadas.