Dá para ganhar dinheiro postando?

Coluna semanal de Ronaldo Lemos publicada na Folha de São Paulo

publicado em

18 de maio de 2021

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Tendência é que tudo que seja relevante na rede migre para um serviço de assinatura

Em 2006, dois importantes pensadores da internet fizeram uma aposta (Yochai Benkler e Nicholas Carr). O primeiro disse que a maior parte do conteúdo postado nas mídias sociais seria produzida de graça, motivada apenas pelo prazer e pela exposição. Já o segundo disse que, no futuro, as principais mídias sociais acabariam por pagar aos usuários pelo conteúdo que postam nelas.

Quem ganhou a aposta? Há até pouco tempo, Benkler vencia. Afinal, só um grupo seleto de celebridades e influenciadores consegue ser pago por seus conteúdos. No entanto, há uma mudança sísmica em curso. Carr começa a ter vantagem. Existe hoje toda uma nova geração de plataformas cujo mote é justamente fazer com que os criadores de conteúdo sejam pagos, mesmo os pequenos.

Vale lembrar que produzir conteúdo é sempre uma forma de trabalho. Muita gente faz isso hoje de graça. No entanto, esse trabalho cria valor que na maioria dos casos é apropriado pela plataforma. Isso está mudando. Novas plataformas como OnlyFans, Patreon, Substack ou o game Roblox cresceram justamente porque nelas os criadores podem ser pagos.

Para quem não conhece, OnlyFans, Patreon e Substack permitem que qualquer usuário possa cobrar uma assinatura mensal (ou um valor individual) para acessar seus conteúdos. O serviço permite exibir fotos, vídeos e textos que ficam trancados por um paywall (o famoso “só para assinantes”).

Desde 2016 o OnlyFans distribuiu mais de US$ 2 bilhões a seus usuários. Até as antigas newsletters de email foram ressuscitadas. Muitos dos conteúdos mais interessantes da internet hoje estão no Substack, que permite criar newsletters por email e cobrar pelo acesso.

Esses serviços concretizam a profecia que Kevin Kelly, outro pensador da internet, fez anos atrás. A de que qualquer pessoa com 500 fãs assíduos seria capaz de viver deles, bastando que topem pagar algo como US$ 50 por ano para acessar seus conteúdos. Isso levaria a uma nova “classe média” de criadores autônomos.

Claro que essa mudança está colocando uma pressão enorme nas plataformas tradicionais. Hoje, é comum esbarrar em contas no Instagram ou no Twitter que são apenas “amostras” do conteúdo real, que migrou para o OnlyFans ou para o Substack. Com receio de virar apenas um mostruário, as plataformas estão reagindo.

Por exemplo, várias estão começando a abrir o bolso. O TikTok, por exemplo, separou um fundo de US$ 2 bilhões para pagar a criadores. Plataformas novatas como o Zynn foram direto ao ponto: contratam celebridades para se mudarem para a plataforma, com salário e tudo. Já o Twitter copiou os concorrentes. Anunciou que vai criar um serviço de assinatura e permitir que os tuiteiros mais populares cobrem pelas tuítes.

Todo esse movimento pode ser comparado ao que está acontecendo com os serviços bancários: antes concentrados nos bancos, hoje estão sendo prestados de forma desagregada por vários novos entrantes.

É também um triunfo do paywall. Os leitores que toda semana esbravejam que não conseguem ler meus artigos porque não assinam a Folha em breve vão esbravejar ainda mais. A tendência é que tudo que seja relevante na rede migre para dentro de um serviço de assinatura. Será o triunfo definitivo da hashtag #sóparaassinantes.

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