Desconectar é cada vez mais raro e difícil

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S.Paulo

publicado em

26 de abril de 2022

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Ao abrir o celular passivamente, perdemos a oportunidade de fazer coisas mais valiosas online e offline

Existe uma experiência educacional e aterradora: utilizar um aplicativo que monitora quanto tempo usamos o celular por dia e qual é esse uso. Apps como o iOS Screen Time, para iPhone, ou o Digital Wellbeing, para o sistema Android, criam um mapa detalhado de quantos minutos gastamos com os olhos fixados na tela do aparelho e como.

Quem faz esse experimento em geral fica chocado. Como o tempo é o recurso mais escasso que existe, é perturbador alcançar o autoconhecimento de como deixamos esse recurso precioso ser jogado fora deslizando o dedo na tela sem nenhum propósito. Mais do que isso, há implicações para a saúde mental.

Um estudo da Universidade da Pensilvânia de 2018 determinou que pessoas que usam mídias sociais no máximo até 30 minutos por dia têm melhoras significativas no seu bem-estar, com redução significativa da sensação de solidão ou de estados depressivos, quando comparados ao grupo de controle.

Gosto sempre de lembrar o documentário biográfico sobre Bill Gates que saiu na Netflix. Os episódios mostram como o bilionário fundador da Microsoft é uma pessoa desconectada. Ele raramente chega perto de um computador ou de um celular. E faz questão de mostrar que carrega uma cesta por onde vai com os livros em papel que está lendo durante aquela semana.

De fato, talvez seja preciso ser alguém como Bill Gates para se desconectar no mundo de hoje. Para a maioria absoluta das pessoas que estão conectadas à internet, a desconexão não é uma opção. Dependemos demais da rede para trabalhar, sobreviver e falar com outras pessoas para conseguir abrir mão dela.

Uma pesquisa de 2020 do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos determinou que naquele país uma pessoa tem, em média, 5,5 horas livres por dia. Uma parcela cada vez maior desse tempo hoje é empregada no celular ou em telas de modo geral.

Diante de tudo isso, o que fazer? A cientista do comportamento Michelle Drouin recomenda olhar para o problema com uma lente de otimização econômica. Ela parte da premissa de que é muito difícil parar de usar o celular. No entanto, é possível tomar decisões melhores sobre como gerir o tempo a partir de uma mudança de perspectiva.

Ela propõe dois modelos para isso: omissão e substituição.

Omissão é abster-se de usar o celular, algo nem sempre fácil de ser feito.

Já a substituição é diferente. É uma mudança de mentalidade para entender que, sempre que optamos por gastar tempo passivamente movendo o dedo sobre o feed das redes sociais, estamos abrindo mão da oportunidade de usar o tempo de outros modos mais construtivos e valiosos. Tanto offline, com pessoas e atividades, quanto online (por exemplo, pesquisando algo em interesse próprio).

Em outras palavras, ao usar o celular passivamente, substituímos outros usos possíveis. Entender isso permite optar entre viver à deriva e ter controle sobre as próprias oportunidades.

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