Euforia toma conta das criptomoedas

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S. Paulo

publicado em

3 de novembro de 2021

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Estamos vivendo tempos de irracionalidade

Todo carnaval tem seu fim, como cantavam os Los Hermanos. No ramo das criptomoedas esse fim ainda não chegou. Na semana passada mais um fenômeno aconteceu. A criptomoeda chamada Shiba Inu teve uma valorização impressionante, acumulando mais de 700% em 30 dias.

A Shiba Inu faz parte do segmento das “memecoins”, fusão entre as moedas digitais e os memes da internet. Tanto é que seu nome e símbolo fazem referência a uma simpática raça de cachorro japonês muito popular na internet.

A moeda foi criada em agosto de 2020 por um anônimo que se autodenomina Ryoshi. O objetivo do criador foi competir com outra memecoin chamada Dogecoin, que também usa o mesmo cachorro de mascote.

Uma das características das memecoins é que elas não têm praticamente nenhuma aplicação prática além da especulação financeira, capaz de enriquecer da noite para o dia quem acreditou nelas no momento certo. E ponha enriquecer nisso.

Por exemplo, um investidor comprou US$ 8.000 de Shiba Inu em agosto de 2020. No dia 27 de outubro de 2021 esse valor correspondia a US$ 5,7 bilhões. E não é só. O valor total de mercado de criptomoeda ultrapassou na semana passada o valor em empresas como General Mills, 7-Eleven, Delta Airlines, Kellogs e o valor da própria bolsa Nasdaq.

O influxo de dinheiro para a Shiba Inu foi tão considerável que no dia da sua maior ascensão a maioria das outras criptomoedas perderam valor. Mais do que isso, a moeda passou a ocupar o nono posto das maiores criptomoedas do planeta.

O caso despertou um frenesi com relação a outras memecoins como a Floki Inu (que também usa um cachorro da mesma raça como mascote), criada por membros da “comunidade” das memecoins.

Há algumas observações que podem ser feitas sobre tudo isso. A primeira é que vale nos lembrarmos todos os dias da frase do escritor Doc Searls que diz que “mercados são conversas”. Mais do que nunca existe uma aproximação entre o fluxo imprevisível da informação na internet e a orientação dos mercados.

O caso Gamestop foi uma vitrine disso. O caso das memecoins está sendo outra. A frase “follow the money” em breve vai precisar ser substituída por “follow the meme”, que é o que está acontecendo hoje.

Outra questão é regulatória. Haverá algum tipo de intervenção nesses movimentos do mercado? Essa regulação será eficaz?

O caso mais conhecido de regulação drástica vem, de novo, da China. O país simplesmente proibiu qualquer tipo de uso ou atividade relacionada a criptomoedas, com exceção da sua própria, o e-Renminbi.

A alegação do país é que os mercados financeiros precisam estar conectados à economia real. O temor é que com taxas de retorno sobre investimento declinantes, investidores começassem a migrar seus recursos para as criptomoedas, que de fato têm superado os retornos de outros ativos recentemente.

O fato é que estamos vivendo tempos de irracionalidade. Será tudo mais uma crise das tulipas? Ou o prenúncio de que uma mudança mais profunda, mais caótica, está em curso?

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