Festival em Piracicaba é tipo um SXSW brasileiro

Coluna de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo.

publicado em

13 de agosto de 2024

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Sthorm põe cidade paulista no mapa da vanguarda, com ousadia e originalidade

O Brasil não cansa de surpreender. Há projetos de inovação que vão de biotecnologia a inteligência artificial que vale conhecer. Falo de alguns abaixo. Mas antes vale dizer que uma das coisas mais tristes é ouvir alguém dizer que não somos inovadores.

O Brasil é o país da Embraer, do parque tecnológico de Santa Rita do Sapucaí, do hidrogênio verde (e, antes dele, do álcool combustível) e muito mais. A inovação está entre nós. Só não está bem distribuída.

Por isso é importante prestar atenção no que está acontecendo aqui e agora. Por exemplo, no dia 24 acontecerá o Sthorm Festival, em Piracicaba, interior de São Paulo. Ele é uma espécie de SXSW brasileiro. Obviamente, é bem menor do que o festival de Austin. Mas no conteúdo é igualmente interessante. E diria que até mais ousado que o primo americano.

O Sthorm é um festival único no país. Reúne música, biotecnologia, saúde, pesquisa espacial e ciências. Está na sua quinta edição. As atrações musicais deste ano incluem Macy Gray e Matt Sorum (ex-baterista dos Guns N’ Roses). No ano passado, o festival trouxe Billy Idol e integrantes do Deep Purple e do Cheap Trick.

Mas a música é só uma das dimensões. O evento é cheio de palestras e workshops que misturam pesquisadores brasileiros e estrangeiros, com ênfase na área de biotecnologia. A razão é que o Sthorm funciona como a vitrine de um ecossistema mais complexo. Por trás do festival há o objetivo de criar um ambiente para o apoio a pesquisas de ponta em saúde.

Seu fundador, Pablo Lobo, cultivou esse interesse justamente por ter enfrentado desafios pessoais de saúde na família. A experiência fez com que ele criasse a Viral Cure, plataforma global que conecta pesquisadores entre si e com financiadores. O resultado da iniciativa é visível.

Por exemplo, a empresa Mabloc, hoje parceira da USP. Ela desenvolve anticorpos monoclonais para o tratamento de doenças infecciosas como dengue, zika, Covid, febre amarela e outras. Quando Donald Trump, então presidente dos EUA, teve Covid, foi tratado com anticorpos monoclonais, de alto custo. A ideia da empresa é tornar esses tratamentos mais acessíveis.

Ou ainda a startup ImmunoX, que pesquisa macrófagos CAR, células do sistema imune que são modificadas para combater o câncer, incluindo tumores sólidos (CAR significa “receptores de antígenos quiméricos”). É uma das linhas de pesquisa mais promissoras na luta global contra o câncer.

Ou a Biotimize, empresa que desenvolve vacinas e medicamentos a partir de células vivas. O laboratório da empresa fica em Piracicaba e está sendo ampliado para atuar também com proteínas recombinantes. Isso fará dele o único laboratório da América do Sul capaz de oferecer todas as metodologias para criação de medicamentos biológicos, outra tendência em saúde.

Na edição deste ano será possível ouvir os fundadores de várias dessas empresas, divididos em três trilhos distintos: ciências do planeta, ciências translacionais (campo que busca transformar pesquisa básica em aplicações práticas) e economia criativa (incluindo temas como influenciadores, blockchains e inteligência artificial).

Não é pouca coisa. Com essa mistura, o festival coloca Piracicaba no mapa da vanguarda, com ousadia e originalidade.

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