Mercado da música vive uma corrida do ouro

Leia a coluna semanal de Ronaldo Lemos na Folha de S. Paulo

publicado em

26 de outubro de 2021

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Streaming gerou nova dinâmica de comercialização de direitos sobre composições

Quem diria. O mercado de música, que foi o patinho feio por tanto tempo por causa da internet, agora está vivendo uma verdadeira corrida do ouro. As negociações de direitos autorais sobre música atingiram graus especulativos que lembram até o mercado de criptomoedas.

Por exemplo, o prêmio Nobel de literatura Bob Dylan vendeu os direitos autorais sobre a totalidade das suas composições por nada menos que US$ 300 milhões. Tem gente que acha que foi barato. A razão é que o mercado de streaming gerou uma nova dinâmica com relação à comercialização de direitos sobre as composições musicais.

Isso atraiu o interesse de fundos de investimento buscando ativos capazes de gerar um retorno constante, crescente e praticamente garantido. Por essa razão, músicos sexagenários estão sendo assediados com ofertas para venderem seus catálogos da mesma forma que Dylan fez. São as divas do momento.

O streaming é parcialmente culpado por isso. Faz com que o consumo de música se torne perene. Tome-se, por exemplo, o hit “Wonderwall” da banda Oasis. A música que marcou o britpop inglês na década de 1990 tem cerca de 1,2 bilhão de execuções no Spotify. Esses números continuam crescendo. Nos últimos anos, “Wonderwall” não saiu do top 200 músicas mais executadas na plataforma.

Diferentemente da época em que a música dependia da venda de vinis, CDs ou faixas digitais individuais, o streaming permite contabilizar em números como as execuções musicais continuam a crescer. Mais do que isso, os direitos sobre as composições permitem muito mais. Quem detém esses direitos pode autorizar que a música seja regravada, adaptada, incluída em vídeos e muito mais. No território musical, direitos sobre composições são o supertrunfo dos direitos autorais.

Um dos fundos que têm sido mais agressivos nesse sentido é o Hipgnosis, sediado no paraíso fiscal da Ilha Guersney. Seu fundador, Merk Mercuriadis, é uma das pessoas simultaneamente mais amadas e odiadas da indústria musical contemporânea. O fundo levantou inicialmente US$ 300 milhões para compra de direitos. Com isso, adquiriu mais de 57 mil músicas, incluindo “Umbrella” de Rihanna e “Baby” de Justin Bieber. Há duas semanas, o fundo Blackstone, um dos maiores do planeta, anunciou um aporte de US$ 1 bilhão no Hipgonsis.

Mercuriadis alega que o segredo do seu sucesso é trabalho. Enquanto outras empresas que controlam direitos têm cerca de um funcionário para cada 20 mil músicas, o Hipgnosis afirma ter sempre um para cada mil. Isso maximiza a exposição desses títulos. Os críticos, no entanto, veem um cenário diferente. Acham que essa hipercapitalização da música terá efeitos negativos no longo prazo, dificultando inclusive o espaço para artistas emergentes.

De qualquer forma, o modelo até agora é bem-sucedido. Tem até fundos brasileiros tentado replicar a estratégia. A boa notícia é que veteranos da música que possuem catálogos construídos a duras penas ao longo de toda uma vida estão agora com a faca e o queijo na mão. A questão é saber quem controla os direitos sobre suas composições —e se esses direitos já não foram vendidos no meio do caminho e, provavelmente, barato.

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