No G20, Brasil pode liderar em tecnologia

Coluna semanal de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo.

publicado em

16 de novembro de 2023

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País já figurou como uma das vozes mais importantes na área

Em dezembro o Brasil presidirá o G20, o fórum que reúne as 20 maiores economias do mundo. O G20 representa mais de 80% do PIB mundial e inclui países que hoje lideram a agenda tecnológica como Estados Unidos, China, União Europeia, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul.

O Brasil assume a presidência depois da Índia, Itália e Indonésia. Todos esses países tiveram algo em comum: colocaram a questão da transformação digital como central. Pode parecer improvável, mas nosso país já foi líder global na questão da tecnologia. De 1996 a 2014, atuamos como uma das vozes centrais para decidir como a internet deveria ser governada.

Por exemplo, aprovamos em 2007 resolução inédita a favor do desenvolvimento na Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Realizamos em 2014 uma das principais reuniões globais sobre a internet em São Paulo.

A partir de 2014, nosso protagonismo se dissolveu. Mas não morreu. Foi ouvido e assimilado por outros países, como a Índia, que se tornou campeã na promoção de agendas tecnológicas, inclusive sobre o tema da chamada “infraestrutura digital pública” (sobre a qual já escrevi aqui).

No mundo de hoje, a infraestrutura digital é tão importante quanto a física. Funciona como alicerce para o processo de inclusão social e financeira contemporânea. A Índia viu isso na prática. Criou uma identidade digital no país, chamada Aadhaar. Em dez anos, fez com que a bancarização no país saltasse de 17% para 80%, ultrapassando em 2018 em muito a média global. Estamos falando de 600 milhões de pessoas que não tinham acesso a serviços financeiros e passaram a ter.

A Índia apostou em dois pilares digitais que possuem equivalentes no Brasil. O primeiro é o Aadhaar, para identidades, lançado em 2009. O sistema tem hoje 1,2 bilhão de usuários. Nosso similar é o sistema “Gov.br”. Apesar de ter sido lançado só em 2019, vem colhendo sucessos.

O outro projeto foi o UPI, sistema de pagamentos similar ao nosso Pix. Lançado em 2016, hoje ele é dominante. Só em agosto de 2023 executou 10,5 bilhões de transações. Nosso Pix, que completa dois anos neste mês, também é sucesso. Já tem 138 milhões de usuários.

Está na hora de o Brasil retomar o bastão (muito bem conduzido) pela Índia e voltar a liderar. Temos muito a mostrar, podendo ir além. Por exemplo, o Portal da Transparência Pública, criado em 2004. Nosso DataSus (que usa blockchain). O Conecta.gov.br para troca de informações entre órgãos públicos. A Nota Fiscal Eletrônica. E agora o Drex, o real digital, que poderá ser usado em contratos inteligentes, inovação capaz de fazer inveja a qualquer país.

Outra liderança que podemos assumir é em inteligência artificial. O G20 é um dos principais fóruns para isso. Se as big techs dominam a conversa, o Brasil pode mostrar como a Unicamp criou uma espécie de ChatGPT nacional voltado para a saúde, que pode ter impacto positivo imenso na saúde pública.

Durante sua presidência, o Brasil tem a chance preciosa de liderar de novo em geopolítica tecnológica. Podemos atuar junto às 20 maiores economias do mundo e pensar a transformação digital de forma diferente e ousada. Podemos ajudar a responder a uma das perguntas cruciais dos nossos tempos: o que queremos da tecnologia? No G20, podemos construir essa resposta de forma prática.

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Já era Protagonismo do Brasil em governança tecnológica no plano internacional

Já é Brasil assumindo a presidência do G20

Já vem Possibilidade de atuar para que a inteligência artificial seja pensada como infraestrutura digital pública

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