O que são literacias de mídia e como elas impactam o futuro da Educação?

Artigo de Beatrice Bonami

publicado em

24 de agosto de 2021

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A palavra “literacia”, em sua origem na língua inglesa (final do século XIX), denotava alfabetização/letramento. Em sua associação com a mídia, a informação e a tecnologia, o termo foi estendido para definir habilidades e competências envolvendo a busca, a seleção, a análise, a avaliação e o processo da informação, considerando os meios, contextos e ambientes em que se encontra e se produz o conhecimento.  Historicamente, foi um conceito associado ao crescimento e à evolução das sociedades, mas somente em meados do século XX acadêmicos se interessaram pelo real sentido da palavra. Ela passou a denotar não mais um sentido vinculado somente ao “letramento”, mas foi associada a um processo educacional mais amplo, que envolve práticas sociais e culturais.

A questão “O que é literacia?”, tanto é difícil de se perguntar quanto de se responder. As discussões sobre o conceito se tornaram comuns desde a década de 1960 e chegou a se colocar que o número de definições da palavra é diretamente proporcional à sua quantidade de usuários. Na educação, ideias como novas literacias, múltiplas literacias, multiliteracias, entre outras, proliferaram no discurso do professor e no discurso literário. Por ser um termo amplo e interdisciplinar, é preciso defini-lo para não se tornar vago. 

O termo tem sido abordado no Brasil nos últimos anos na área da “Comunicação na Educação” para designar novas habilidades desenvolvidas pelo sujeito exposto às novas mídias, informações e tecnologias. Comumente articulada a outros conceitos, literacia se torna um termo composto, tal como: literacias digitais ou literacias em mídia e informação. Na língua portuguesa, a palavra “literacy” (do inglês) é oficialmente traduzida como letramento ou alfabetização, sendo assim ligada ao campo da pedagogia e da literatura.

Em referência aos termos compostos também no inglês – “digital literacy” e “media and information literacy” – surgiram expressões tais como: letramento informacional, alfabetização informacional, habilidade informacional e competência informacional. No entanto, existe uma tendência em utilizar no lugar dessa tradução, uma expressão mais literal, daí o uso da palavra “literacia”. A tradução literal abarca a abrangência do radical da palavra original, já que o conceito já contemplava habilidades para além do letramento (escrita e leitura), mas também noções de interpretação e produção relativas à área da literatura e da cultura.

Devido à convergência com os significados de letramento, competência e alfabetização é preciso cautela em associar esses conceitos dentro do campo da Comunicação e da Informação. Por exemplo, ao empregar a palavra “alfabetização” em situações que os sujeitos sejam letrados ou já tenham completado os ensinos básicos de educação, pode-se atribuir um sentido pejorativo, sugerindo que o indivíduo seja um “analfabeto informacional”. O mesmo acontece ao se referir à “competência”, abrindo a sugestão de que, quem não as desenvolve se tornaria um “incompetente informacional”. As literacias em seus termos compostos dispensam essas divergências ou mesmo conflitos em relação ao sentido empregado das palavras, e propõem uma posição afirmativa do sujeito que aprende essas novas habilidades e competências sem diminuir seu histórico escolar tradicional.

A constante articulação do termo “literacia” em pesquisas relacionadas à Comunicação e à Educação parece ser construída como uma simples substituição ao termo “alfabetização informacional”. Por outro lado, é também encarada como uma criação de uma nova tendência nesse mesmo perímetro epistemológico. Não por acaso, o conceito foi revisado em seus diferentes vértices com a Literatura e a Cultura. O termo tem em seu gene etimológico um caráter amplo e flexível e sua construção semântica ganha notoriedade na década de 1980, enfatizando o processo cultural e social sobre a pesquisa de novas mídias e as novas maneiras de se pensar a informação.

A perspectiva das literacias tem se difundido e consolidado de tal forma, que a United Nation of Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) já há algum tempo discute o tema, reconhecendo-o como um direito humano fundamental, devido ao seu caráter construtivo e afirmativo tão necessários nos processos linguístico e educacional. A tradução literal para o termo “literacy” se emprega justamente por essa flexibilidade da palavra ao se movimentar e integrar novas associações. Para além do triângulo informação, tecnologia e mídia, há uma vasta gama de literacias emergentes desenvolvidas na sociedade da informação.

As Nações Unidas trazem desde a sua fundação, em 1945, a missão e o propósito de promoção da cultura e defesa da paz. As literacias de mídia e informação são um patrimônio imaterial que tem como fundamento a construção da sociedade do conhecimento na era da informação. Na era da informação, a alfabetização refere-se à capacidade de interagir e se comunicar com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), envolvendo o ambiente digital como interface de transmissão de conhecimento não apenas para absorver informações, mas para criar e compartilhar conteúdos. Envolve a compreensão crítica associada aos formatos de mídia e informação e tem como um dos principais desafios, a marginalização sistematizada de indivíduos excluídos digitalmente. Desse modo, existe um movimento global que defende a mídia, a informação e a tecnologia como temas não apenas trabalhados como ferramentas, mas como novas formas de pensar que privilegiam o aprendizado e o entretenimento significativos associados ao poder político de cada indivíduo. Um novo fenômeno exige novas habilidades e é por isso que essas transliteracias (mídia, informação e digital) são consideradas a base do desenvolvimento cívico do terceiro milênio.

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