Os três estigmas de Sam Altman

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S.Paulo.

publicado em

24 de maio de 2023

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Energia, inteligência artificial e identidades digitais têm tudo em comum

Na semana passada, Sam Altman, fundador da OpenAI, empresa desenvolvedora do ChatGPT, esteve no Brasil. Ele participou de um evento no Museu do Amanhã organizado pela Fundação Lemann e de um encontro organizado no dia anterior pelo ITS Rio.

Sam escolheu o Brasil como início de uma viagem de dois meses em que visitará diversos países para falar sobre inteligência artificial. A lista de destinos não inclui a China. Sam defende que a inteligência artificial seja regulada e convoca a comunidade científica e os Estados a criar regramentos internacionais sobre a questão desde já. Uma das razões é que ele teme que a ideia de uma “inteligência artificial geral” esteja próxima, isto é, o momento em que as máquinas começam, elas mesmas, a ter ideias originais. De acordo com Sam, “estamos apenas a uma grande ideia disso acontecer”. Segundo ele, “essa será a última grande ideia vinda da humanidade”.

Inteligência artificial não é a única área de atuação de Altman. Ele está por trás também da Helion, empresa de fusão nuclear. A empresa promete para o ano que vem realizar o teste definitivo da tecnologia mais cobiçada pela humanidade, capaz de gerar energia limpa, barata e ilimitada.

Ao lhe ser perguntado sobre aquecimento global, Altman diz que o problema será resolvido nos próximos dez anos por causa da fusão nuclear. O petróleo e outros combustíveis fósseis se tornarão, na maior sua maior parte, inúteis quando isso acontecer (alô Petrobras).

O outro problema que Sam quer resolver é a questão das identidades digitais. Há muito tempo várias pessoas (incluindo este colunista) vêm dizendo que a questão das identidades digitais é o “santo graal” dos serviços digitais. Permitiria revolucionar os serviços públicos e reduzir, em grande medida, problemas como “fake news” e os robôs que as espalham, na medida em que as plataformas passem a exigir a identificação real dos seus usuários. Para isso, Sam lançou um projeto para coletar a íris de todos os habitantes do planeta, que poderiam receber pagamentos por uma criptomoeda chamada worldcoin para isso.

O que esses três estigmas de Sam Altman, energia, inteligência artificial e identidades digitais, têm em comum? Absolutamente tudo. Uma identidade global atrelada a um meio de pagamento global poderia ser a base para a criação de um sistema de renda básica universal. Inclusive sem passar por governos para ser implementado. Isso permitiria amparar quem perdesse seu emprego nos próximos anos em face da ascensão da inteligência artificial.

O outro pilar, energia, também tem tudo a ver. Modelos baseados em redes neurais consomem muita energia. Uma fonte de energia limpa e inesgotável seria o estigma a permitir a ascensão perpétua e ilimitada de máquinas pensantes. Se bem-sucedidos, os três estigmas poderiam inaugurar uma nova era geológica de “tecnoceno”, fazendo com que a ideia de “antropoceno” tenha sido um brevíssimo período de transição, em que apenas abrimos alas para as máquinas.

Na conversa que tive com Sam, ele revelou ser um grande fã de ficção científica. Se fosse escritor, seus livros provavelmente receberiam os prêmios da área, como o Hugo e o Nébula. Só que, em vez de livros, a ambição de Sam é nos transformar, todos nós, em personagens da sua narrativa pessoal. O prêmio com relação a isso é incerto.


Já era Precisar ter bases de dados organizadas para treinar IA
Já é Treinar IA com enormes bases de dados produzidos pelas atividades humanas
Já vem Treinar IA com dados sintéticos, produzidos pelas próprias máquinas

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