Tesla anuncia robotáxis, e ações caem 10%

Coluna de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo.

publicado em

15 de outubro de 2024

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Promessa de Musk de carros totalmente autônomos perde credibilidade

Boa parte da afluência do bilionário Elon Musk é construída em cima de uma promessa: a de que os carros elétricos da sua empresa Tesla vão se tornar totalmente autônomos, capazes de se autodirigir (os chamados “robotáxis”).

No momento em que isso acontecesse, Musk dominaria de uma vez só todo o transporte urbano do planeta, substituindo os táxis tradicionais e aplicativos como o Uber. O conceito é que cada pessoa poderia comprar o seu robotáxi e deixá-lo fazendo corridas pela cidade. Isso geraria receitas para o dono, com um percentual indo para a Tesla.

Essa promessa explica o fato de o valor de mercado da empresa ser hoje um múltiplo de 8,8 vezes a sua receita anual. Outros fabricantes de veículos têm valor de mercado correspondente a 0,3 a 0,5 da receita anual.

A questão é que a promessa de Musk está perdendo credibilidade. A primeira vez que ele anunciou os robotáxis foi em 2016. Em 2019 ele disse que em 2020 haveria 1 milhão deles nas ruas. Em 2021, afirmou novamente que sua chegada era iminente. Depois ficou quieto.

Só que na semana passada Musk convocou de novo a imprensa para anunciar a chegada desse produto revolucionário. O evento, no entanto, foi um fiasco. Musk de fato revelou o protótipo do robotáxi.

Ele consiste em um carro de apenas dois lugares, sem volante nem pedais. A parte traseira não tem vidro, é totalmente fechada. A concessão foi o para-brisa, que permanece. O custo de cada um será de US$ 30 mil. A nova data para iniciar a produção passou a ser 2026.

Em vez de entusiasmo, o anúncio caiu como uma bomba sobre a Tesla. As ações da empresa despencaram 10%. Ao mesmo tempo, os papéis da Uber subiram 9,6%. A percepção é que o robotáxi parece ser mais uma bravata para enrolar os acionistas atuais da Tesla do que um plano empresarial crível.

A dúvida faz sentido. Chegar à autonomia completa de um veículo é uma tarefa extremamente difícil. Em 2014, o cientista alemão Christoph Stiller definiu a autonomia em 5 níveis. O nível 0 é o dos carros comuns, em que o motorista controla todas as tarefas. O nível 5 é a autonomia completa, que é a promessa de Musk.

O que temos de mais avançado no mundo hoje é o nível 4, em que o veículo é autônomo, mas consegue trafegar apenas em áreas bem delimitadas. Esse é o serviço oferecido pela empresa Waymo, que hoje tem 700 táxis autônomos em algumas áreas de San Francisco ou Los Angeles.

Para chegar à autonomia completa, é necessária uma quantidade extraordinária de dados. De fato, a Tesla é a empresa que mais tem dados sobre isso. Mas ter essas informações não garante que a autonomia completa será algum dia viável. Ainda mais porque a Tesla insiste em trabalhar apenas com câmeras, abrindo mão de sensores a laser (Lidar), usados pela Waymo.

A razão é que Musk acha que o Lidar no topo do carro é esteticamente desajeitado. Como a riqueza de Musk está intimamente ligada ao sucesso da Tesla, é provável que questões além da estética surjam no seu radar em breve.

Já era – Achar que os robotáxis estão chegando

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