Threads estreia com muita coisa frustrante

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S.Paulo.

publicado em

13 de julho de 2023

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    Instagram usou base de usuários para catapultar crescimento mais rápido de um aplicativo na história

    O assunto que roubou os holofotes no campo da tecnologia na semana passada foi o lançamento repentino do Threads, nova plataforma da Meta que compete com o Twitter. Em três dias a plataforma alcançou 80 milhões de usuários, assumindo a liderança de aplicativo com crescimento mais rápido até hoje. A liderança anterior era do ChatGPT, que conseguiu 100 milhões, mas levou dois meses para isso.

    Qual o segredo do sucesso? O Threads foi catapultado pelo Instagram, aplicativo que possui 500 milhões de usuários ativos todos os dias. Em outras palavras, a Meta utilizou a dominância do Instagram e soube aproveitar bem o momento de frustração com o Twitter. A plataforma de Elon Musk vem se fechando e tomando decisões cada vez mais erráticas. Chegou até a estabelecer um limite de leitura de mil tuítes por dia para quem não paga. Um meme que circulou nas redes mostrava uma criança com um pires na mão suplicando a Musk: “Senhor, posso ler só mais um tuíte por favor?”.

    Mas afinal, quais as apostas do Threads para dar certo? De cara há muita coisa frustrante. A começar pelo fato de não haver busca no aplicativo. Uma das maiores utilidades do Twitter é justamente a capacidade de buscar por qualquer palavra ou assunto e ver o que está sendo discutido em tempo real. O Threads na sua versão atual sumiu com essa possibilidade. Sumiu também com os “trending topics“, que mostram os assuntos mais quentes e com as famosas hashtags. Isso torna a plataforma fechada para os usuários e para pesquisas.

    O Threads apostou tudo em um feed único governado de forma absolutista pelo algoritmo. Não tem como o usuário enxergar posts apenas das pessoas que segue, nem visualizar um feed em ordem cronológica. É o algoritmo da plataforma que decide o que você vai ver. Nesse ponto o Threads usa a fórmula do Tiktok. Não importa quem você segue. O algoritmo vai analisar o que captura a sua atenção e vai colocar na sua frente postagens inclusive de pessoas que você não segue. Tudo para tentar maximizar sua permanência na plataforma.

    Já a jogada mais sofisticada do Threads diz respeito a moderação de conteúdo. O Twitter na era Musk vem se vendendo como um paraíso da liberdade de expressão. Já o Threads aplicará as regras de moderação de conteúdo da Meta, tal como o Instagram e o Facebook. No entanto, em uma decisão chocante, o Threads adotou um protocolo aberto para suas publicações. Ele se juntou ao padrão criado pelo Mastodon chamado “ActivityPub”. Esse protocolo cria uma federação de servidores independentes que podem conversar livremente entre si. Cada servidor estabelece suas próprias regras de moderação. Os servidores da Meta terão suas regras já conhecidas. Mas nada impede que usuários de outros servidores dialoguem com os usuários do Threads e até mesmo apareçam no feed do aplicativo. Muitos desses servidores poderão ter ZERO moderação de conteúdo.

    Essa adoção do padrão aberto estilo “open source” isola o Twitter e dá um xeque em Musk. Se será xeque-mate veremos. Aliás, existe um outro aplicativo que causou grande comoção quando foi lançado e logo sumiu: o Clubhouse. Como diz o ditado: o sucesso sobe de escada, já o fracasso desce de elevador. O Threads será o novo Clubhouse? O tempo irá dizer.


     

    Já era – achar que é possível ter alguma estabilidade como influenciador de internet

    Já é – FOMO (Fear of Missing Out) com relação a se juntar logo ao Threads

    Já vem – FOMF (Fear of Missing Followers), medo dos influenciadores de perderem seguidores e influência na migração para a nova plataforma

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