Vivemos na sociedade do ‘alguém está errado’

Coluna de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo.

publicado em

18 de março de 2025

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Livro propõe que, ao parar de querer controlar os outros, você percebe que tem muito mais poder do que pensava

Um dos melhores memes da internet mostra um homem digitando no computador na madrugada quando sua mulher pergunta: “Você vem dormir?”. O homem responde: “Não posso. Isso é importante”. A mulher então pergunta: “O quê?”. E a resposta clássica vem: “Alguém está errado na internet”.

cartum do brilhante Randall Munroe de 2008 ironiza o comportamento obsessivo de pessoas que perdem tempo e energia com outras pessoas online sobre qualquer assunto. Todos nós nos tornamos em alguma medida assim. Vivemos na sociedade do “alguém está errado” o tempo todo, e gastamos uma energia vital enorme com isso.

As consequências são também políticas. Achar que os outros estão “errados” pressupõe achar que você está certo. O resultado todos conhecemos: polarização, atomização, solidão e todo o pacote de deterioração que a sociedade conectada (em que estamos permanentemente expostos aos “erros” dos outros) trouxe consigo.

Foi nesse contexto que o novo livro da escritora de autoajuda (sim!) Mel Robbins, chamado “Let Them” (“Deixe-os”, ainda inédito no Brasil) virou um sucesso estrondoso.

Robbins tem uma história curiosa. Estudou em uma das melhores universidades dos EUA (Dartmouth), fez direito e chegou a trabalhar como advogada. Mas acabou se tornando comentarista e apresentadora de TV, até virar palestrante motivacional.

Ela descreve a virada da sua vida como sendo o dia em que, paralisada por uma série de problemas pessoais e financeiros (incluindo uma dívida de 800 mil dólares) ela cunhou um novo lema pessoal: “ninguém está vindo para te salvar”. O que resultou no seu primeiro sucesso editorial.

No novo livro, que está no número 1 da lista de best sellers do New York Times e da Amazon, ela propõe um outro conceito simplório, mas interessante: “Sem perceber, damos a outras pessoas poder sobre nossas vidas”.

Sua proposta: “quando você para de querer controlar os outros, você percebe que tem muito mais poder do que pensava”. Então simplesmente “deixe-os” e siga com a sua vida. É o caso do cartum. Um desconhecido impede alguém de dormir à noite por estar “errado”.

Nas palavras de Robbins: “Outras pessoas não têm nenhum poder sobre você a não ser que você permita que isso aconteça”. A maioria das análises ao livro para por aí.

No entanto, a teoria do Let Them tem um outro lado, que é o chamado “Let Me” (Deixe-me). Essa parte torna a ideia mais interessante. Enquanto você deixa aquilo que você não pode controlar de lado, aja mais do que nunca conforme seus valores, crenças e necessidades. Concentre-se em como você reagiria à mesma situação, mas de acordo com sua bússola pessoal.

É tudo meio poliana. Mas neste mundo exaustivo em que todos querem ter razão e ninguém quer escutar, essa ideia franciscana tocou milhões de pessoas.

Provavelmente poucas delas conhecem o clássico “Deixa Isso Pra Lá”, imortalizado por Jair Rodrigues: “Deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso prá, vem pra cá, o que é que tem?”. Como sempre, a música brasileira, com seu saber de experiência feito, preconizando tudo.

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