Wearables que respondem aos desafios da covid-19 despertam questionamentos éticos

Coluna de Fabro Steibel no jornal Zero Hora

publicado em

25 de agosto de 2020

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Estamos vendo uma nova onda das tecnologias de vestir que apresentam soluções de convivência com o vírus

Mais de 50 países já lançaram aplicativos de celular para verificar sua proximidade com pessoas infectadas com COVID. Crescem agora soluções de vestir (os wearables), que permitem controlar a pandemia misturando roupas, acessórios, computadores e internet. O próximo desafio é claro: descobrir como desenvolver essa tecnologia sem comprometer a privacidade.

A tecnologia de vestir é uma promessa antiga do universo da Internet das Coisas (IoT). O mercado de wearables ainda é pequeno, mas cresce rápido. No Brasil, ano passado, foram vendidas mais de 300 mil unidades desse tipo de tecnologia. Parece pouco, mas os números são quase três vezes maior que os do ano anterior.

Há exemplos de wearables já deve ter cruzado por aí, como os relógios inteligentes da Apple e as pulseiras fitness que monitoram seus exercícios. A tecnologia disponível é muito mais limitada que a do celular (até porque a bateria é sempre limitada), mas o que temos no mercado já nos permite imaginar a quantidade de dados que geramos sobre nós, sem perceber. 

Estamos vendo uma nova onda de wearables inspirado nos desafios do COVID. Atletas da NBA adotaram anéis inteligentes para medir a saúde física, e há pulseiras que agora vem com oxímetro para antever quadros graves de infecção. Uma solução simples e interessante foi proposta pela NASA: um colar que vibra antes de você encostar a mão no rosto sem perceber. Já se sabe de testes clínicos de vacinas que vão exigir aos pacientes uso de pulseiras para monitorar sintomas, e de governos, como o de Singapura, que criou um chaveiro mandatório para quem sair na rua tendo risco de exposição ao vírus.

Com a popularização da tecnologia, acende-se a luz amarela sobre formas de combater o vírus e proteger nossa privacidade.  Uma pesquisa da Anistia Internacional mostrou que aplicativos de celular criados por governos para monitorar o COVID representam em diversos países uma grave ameaça aos nossos direitos. A pesquisa mostra que estão em risco quem mora em países que gozam de confiança do cidadão, como a Noruega, tanto quanto os cidadãos de países menos transparentes, como Kuwait. Não é a toa que a Noruega repensou sua posição, e não só abandonou o aplicativo como decidiu deletar todos os dados coletados. 

Grandes crises tendem a justificar aumento da vigilância sobre nós. Foi assim no ataque de 11 de setembro, e é assim nessa pandemia que atravessamos. Mas, passada a urgência, a tendência é o monitoramento em massa virar o novo normal. Foi o legado do ataque às Torres Gêmeas que levaram o governo americano a vigiar toda comunicação mundial, fatos revelados por Edward Snowden que afetaram inclusive o Brasil, e é nessa linha que a China está justificando o monitoramento feito a quem mora em Hong Kong. Há formas seguras de criar tecnologias que sirvam ao nosso bem. Mas antes que a moda de wearables pegue de vez, ou que seja um anel a solução infalível para controlar a pandemia, cabe lembrar: o vírus vai passar, mas nossos dados, tendem a permanecer por aí.

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