A academia agora é em casa?

Coluna semanal de Ronaldo Lemos na Folha de São Paulo

publicado em

20 de outubro de 2020

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Downloads de aplicativos de exercícios e fitness cresceram 46%

Durante o período de isolamento social teve gente debatendo o quanto as mudanças de hábito nesse período se tornarão permanentes. Um desses novos hábitos é fazer exercício em casa. Muitos aplicativos que oferecem serviços de “personal trainer” pelo celular tiveram no distanciamento o momento perfeito para consolidar o hábito de treinar em casa.

Os números mostram isso. Durante o primeiro semestre de 2020 os downloads de aplicativos de exercícios e fitness cresceram 46% globalmente. Só na Índia cresceram 157%, com 58 milhões de novos usuários nesse período. O tempo gasto nas sessões de treino também aumentou 18% do primeiro para o segundo trimestre do ano.

Nos EUA a tendência é ainda mais forte. De acordo com pesquisa feita pela OnePoll, durante a quarentena 74% dos norte-americanos utilizaram ao menos um aplicativo de fitness. Para 41% das pessoas, essa foi a primeira vez que fizeram isso. O dado mais dramático é que 56% se sentiram tão satisfeitos com a experiência de treinar em casa que planejam cancelar sua matrícula na academia.

As razões para essa mudança são várias. Além de poupar dinheiro, treinar em casa poupa também tempo, reduzindo deslocamentos e permitindo horários infinitamente flexíveis. Além disso há questões sociais. 65% dos homens e 55% das mulheres dizem que frequentemente se sentem intimidados com o treino em uma academia tradicional.

A quarentena também trouxe uma onda zen. Por exemplo, 34% das pessoas nos EUA fizeram uma prática de meditação pela primeira vez neste ano e 29% tiveram sua primeira experiência com Yoga. Isso não significa que pesos e equipamentos de treino saíram de cena. Houve uma explosão de compra de itens como colchões de yoga, fitas elásticas para treino de resistência e pesos livres. 21% dos norte-americanos compraram uma bicicleta ergométrica e 21% compraram uma esteira
ou um equipamento elíptico.

Essas mudanças trazem algumas lições. A primeira delas é nunca subestimar o quanto o avanço da inteligência artificial (AI) pode transformar até mesmo mercados insuspeitos. Antes da pandemia, muita gente podia olhar para as academias e coçar a cabeça se perguntando como algum dia uma tecnologia como AI poderia ser disruptiva para um negócio tão “físico”. A chegada de aplicativos que criam sessões de treino personalizadas e infinitas usando AI balançou essa segurança. A necessidade de treinar em casa por razões de saúde pública foi mais um tijolo nesse muro.

Há também questões culturais. Intuitivamente a pandemia faz com que as pessoas busquem maior independência e autonomia. Nesse sentido, exercícios que permitem treinar com o peso do próprio corpo (calistenia), sem depender de equipamentos, deixou de ser atividade de nicho para se tornar algo desejável. Essas mudanças também abriram novas formas de interação social. Muita gente passou a reunir os amigos ou colegas de trabalho para sessões coletivas e virtuais de yoga por meio do Zoom, além de outras atividades físicas coletivas online. Se essas mudanças de hábito serão definitivas o tempo dirá.

O fato é que as academia tradicionais terão de suar a camisa para reinventar seus serviços e manter a mesma relevância de antes.

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