Tempo, o bem mais escasso na era da internet

Coluna de Fabro Steibel no Zero Hora

publicado em

13 de novembro de 2020

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Nos falta tempo para verificar se vacinas funcionam, se informações são verdadeiras, se aplicativos promovem emprego ou desemprego

A internet gerou um sentimento de escassez eterna entre nós: nos falta tempo para entender o que acontece ao nosso redor. Falta tempo para verificar se vacinas funcionam, se informações são verdadeiras, se aplicativos promovem emprego ou desemprego. A falta de tempo é, inclusive, um dos elementos para compreender como podemos usar a internet a favor da sociedade.

Veja o caso de verificação de informações durante a eleição. Um boato pode mudar um pleito, e estamos buscando formas de saber se informações são corretas antes de mentiras circularem por aí. Como criamos muitas mensagens por minuto, e faltam pessoas, jornalistas ou algoritmos capazes de lidar com a demanda, que interessante seria se a informação fosse menos instantânea. O Twitter pensou nisso, e vai exigir que você leia as notícias antes de compartilhá-las, e já há quem queira ir além, e exigir que políticos com mais de 100 mil seguidores tenham menos acesso a postagens instantâneas que uma pessoa comum.

Outro exemplo é a revolução que plataformas tecnológicas causam no mundo da logística. Enquanto o iFood é um dos grandes promotores do uso de bicicletas nas cidades, a Uber uma das grandes fontes de reinclusão no mercado de trabalho e a Buser uma aceleradora do mercado de fretamento, sabemos que há externalidades possíveis nessas inovações todas. Qual a responsabilidade das plataformas com a segurança dos entregadores, com direitos trabalhistas ou com modelos de negócio essenciais às cidades?

E o impacto da Covid-19 na Educação? O Conselho Nacional de Educação já anunciou que aulas remotas serão válidas até o final de 2021. Isso dá incentivos suficientes para o ensino híbrido virar regra e o ensino só online, ou só presencial, tornarem-se exceção. Tudo isso acontece mesmo que apenas 28% das escolas adotem alguma plataforma online de ensino, ou que mais da metade dos professores já usa celular para atividades com os alunos. Faltará tempo para adequar o planejamento escolar, universalizar a conexão, e identificar prós e contras desse universo híbrido, que chegou.

Sobre a vacina da Covid-19 ou cloroquina, então, nem se fala. Os principais jornais acadêmicos estão revendo seus processos de aprovação de artigos científicos para dar conta do impacto da ciência na sociedade. E todo sistema logístico está correndo contra o relógio para dar conta da logística da vacina, que vai exigir – quase certo – transporte feito a muitos graus abaixo de zero.

A internet acelerou radicalmente as mudanças na sociedade, e sentimos isso nas atividades mais básicas que constituem as cidades, as empresas, e até a família. Quem diria, mas o bem mais escasso da modernidade é justamente o tempo.

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