Bets aumentam em 28% a chance de falências onde estão legalizadas

Coluna de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo.

publicado em

8 de outubro de 2024

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O efeito pernicioso começa entre o segundo e o quarto ano da legalização, segundo estudo feito nos EUA

O Brasil legalizou as bets esportivas online, tendo como um dos principais defensores da medida ninguém menos que o governo federal. Só que faltou fazer o dever de casa antes. Por exemplo, olhar para o que aconteceu nos Estados Unidos desde 2018. Foi quando a Suprema Corte permitiu de forma bombástica que os estados pudessem legalizar as apostas esportivas e online. 38 estados seguiram por esse caminho.

Observar as consequências das bets nos EUA traz uma sobriedade imediata. Um dos principais estudos saiu agora em julho. Foi escrito por professores da Universidade da Califórnia. Os autores analisaram todos os estados em que as bets online foram legalizadas. Descobriram que as chances de falência aumentaram em 28% em todos eles. O efeito pernicioso começa entre o segundo e o quarto ano da legalização.

O estudo tomou por base o conhecido Painel de Crédito do Consumidor (UC CCP), que é medido trimestralmente pela Universidade da Califórnia, com uma amostra de mais de 7 milhões de pessoas. O índice inclui análises financeiras detalhadas de cada indivíduo da amostra. A conclusão é que as bets online tiveram um papel central no aumento das situações de desespero econômico.

Nos estados que legalizaram bets online os processos de cobrança de dívidas não pagas saltaram em 8%. Esse efeito nefasto começa a se propagar a partir de dois anos da legalização. De novo, isso aconteceu em 100% dos estados que legalizaram bets online. Não é uma exceção, é a regra.

O estudo aponta que a facilidade de apostar pelo celular é o fator determinante para o crescimento das dívidas descontroladas, várias delas provocadas por comportamentos compulsivos.

Isso não bastasse, o estudo determinou que as instituições financeiras precisaram tomar medidas de contenção para se proteger. A primeira delas foi restringir o acesso a crédito nos lugares onde as bets online foram legalizadas. Isso foi feito através do corte de limites de cartão de crédito, exigência de garantias para concessão de crédito e aumento das taxas de juros.

A população mais afetada por tudo isso é de homens abaixo dos 45 anos, especialmente jovens. Esse segmento é desproporcionalmente atingido pelas bets online. O estudo aponta que quem mora em localidades pobres é especialmente atingido. Tornam-se presa fácil das bets online, seja por fatores comportamentais, por inexperiência e falta de conhecimento financeiro, e pelo nível de poupança baixo ou inexistente, o que gera suscetibilidade ao marketing das bets.

O estudo completo chama-se “The Financial Consequences of Legalized Sports Gambling“. Sua leitura é obrigatória e funciona como um alerta para o tamanho da ressaca que a embriaguez das bets pode produzir no Brasil.

Alguém pode dizer: os EUA de hoje são Brasil de amanhã. Não são não! Apesar de tudo, o PIB dos EUA é 12 vezes maior que o nosso. A miséria, bem menor. No Brasil, 59 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza hoje. As bets estão de olho nelas.

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