Brasil toma surra do Vietnã em tecnologia, educação e agro

Coluna de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo.

publicado em

30 de setembro de 2025

categorias

{{ its_tabs[single_menu_active] }}

tema

Em 2024, o país exportou US$ 124 bilhões em produtos tecnológicos, enquanto no Brasil foram US$ 8 bi

Na corrida pelo desenvolvimento, o Brasil está tomando uma surra do Vietnã. O país asiático tem economia menor que a brasileira, por enquanto. Mas está acelerando enquanto estamos estacionados. O país está dando baile no Brasil em tecnologiaeducação e até no agro.

No exame Pisa, que compara o aprendizado dos alunos em diferentes países, a situação é dramática. Os 10% piores estudantes do Vietnã têm desempenho similar aos 10% melhores alunos brasileiros, incluindo as escolas privadas. Mesmo alunos de famílias mais pobres no Vietnã têm desempenho muito acima da média nacional do Brasil.

No agro, o Vietnã cresceu usando conhecimento e estratégia. Está apostando em certificações para agregar mais valor aos seus produtos. No café, onde atua há bem menos tempo, tornou-se o segundo maior exportador, controlando 20% do mercado global (o Brasil tem 37%). Está também criando redes próprias de cafeterias, como a Trung Nguyên Legend, especializada em café vietnamita, com lojas na Califórnia, Texas, Oregon ou Xangai.

O país também dominou o mercado de castanha de caju, planta do nordeste brasileiro. Aliás, por curiosidade, a China acaba de se tornar o maior exportador global de Tambaqui, nosso peixe amazônico.

Mas é em tecnologia que o Vietnã está dando um baile. O país está construindo um caminho tecnológico próprio, sem copiar ninguém. Afinal, o país já teve conflitos armados com os Estados Unidos e com a China. Seu objetivo é evitar dependência de ambos.

Em 2024, o Vietnã exportou US$ 124 bilhões (R$ 662,6 bilhões) em produtos tecnológicos. O Brasil exportou US$ 8 bilhões (R$ 42,7 bilhões), a maior parte da Embraer. Tecnologia corresponde a 40% das exportações do Vietnã e menos de 3% no Brasil.

É a partir disso que o Vietnã está construindo uma infraestrutura tecnológica própria. O primeiro passo foi criar um modelo fundacional de inteligência artificial. Chamado VinaLLaMA, o modelo partiu de uma base de IA Open Source (LLaMA-2), mas foi retreinado com bilhões de tokens vietnamitas e ajustado ao contexto cultural e linguístico do país. Está hoje no estado da arte em comparação a outras IAs e serve de base aberta para aplicações nacionais.

Além disso, o país está investindo em datacenters e bases de dados locais, para dar conta da demanda do desenvolvimento da IA, com infraestrutura própria.

Para isso, adotou um caminho diferente do Brasil. Em vez de priorizar apenas regulação da IA e atração de data centers, o Vietnã aprovou uma legislação com visão ampla. A lei (chamada DTI, aprovada em junho) articula as ambições do país em tecnologia, incluindo IA, semicondutores, dados, conteúdo digital e capacitação da força de trabalho. Seu texto é leitura obrigatória para qualquer pessoa no Brasil interessada nesses temas.

Enquanto isso, o Brasil está preso na fantasia de copiar a Europa na regulação e atuando de forma fragmentada quanto a outros temas. A surra que estamos tomando é de inteligência e estratégia. Se quisermos desenvolvimento de verdade, precisamos olhar mais para países como o Vietnã e menos para a Europa.

Já era – PIB per capita do Vietnã de US$ 284 em 1994

Já é – Crescimento de 8,8% ao ano do Vietnã de 1994 até o presente

Já vem – Projeção de crescimento de 7% do Vietnã em 2025 e 2% para o Brasil

autor

{{ pessoas.pessoaActive.title }}

×