A desinformação profissional é diferente da amadora

Coluna de Fabro Steibel no Zero Hora

publicado em

23 de julho de 2020

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Para enfrentar o problema das fake news, precisamos fazer essa separação

O coronavírus e a desinformação têm um traço familiar: ambos se espalham de uma pessoa para outra, de forma exponencial. Com a chegada da vacina, a COVID-19 se resolve. Já para desinformação, o desafio é mais complexo.

Para ver o que já existe de solução para desinformação, lançamos em parceria com a Digital Future Society, um estudo com equipes do Brasil e da Espanha sobre o que governos, empresas, jornalistas e pessoas como você estão fazendo para combater a desinformação. Fomos ao mundo, e descrevemos em detalhes cinco iniciativas de sucesso: uma na América Latina (Chicas Poderosas), duas na Europa (SOMA e Newtral), uma na África (o MMA) e uma na Ásia (CoFacts). Listamos ainda no relatório dados para você compreender o problema e saber como botar a mão na massa.

Na pesquisa, encontramos três coisas que os acertos têm em comum. Primeiro, elas aceitam que trabalhar sozinho é limitado e que abordagens multissetoriais são a chave do sucesso. Segundo, que desinformação não é uma guerra, mas sim um esforço de educação para mídia. O desafio é produzir mais informação, e não menos. Terceiro, que ao lado da desinformação está a liberdade de expressão. É por isso que para enfrentar o problema precisamos separar a desinformação amadora da desinformação profissional, o tio do Whatsapp da indústria do fake news.

No Brasil estamos quase aprovando a primeira “Lei das Fake News”. Idealizado pelos congressistas Tabata Amaral, Felipe Rigoni e Alessandro Vieira é um projeto bem intencionado, mas que mistura as coisas. O Estado deve combater apenas a desinformação profissional, aquela que usa robôs e financiamento para perseguir vítimas, comprar votos, silenciar jornalistas e destruir reputações em massa. Essa indústria existe no Brasil, na Espanha, no mundo todo, é uma ação profissional e de campanha coordenada, o que justifica o Estado a intervir.

Ao mesmo tempo, o Estado deve se afastar de interferir na desinformação amadora. É isso que nosso relatório mostra com clareza. E quem já está enfrentando esse problema? As agências verificadoras de notícias, quem expõe marcas que anunciam em sites de desinformação, e as incansáveis pessoas que no Whatsapp verificam informações e conversam com quem é abusivo. O que une essas iniciativas é o combate à desinformação com mais informação, mais educação e mais poder ao cidadão.

Em tempos atuais, vídeos de desinformação no Youtube são três vezes mais assistidos que vídeos com informação confiável. É preciso investigar. Se há dinheiro financiando isso, vamos combater o problema pela raiz: seguindo o dinheiro que nutre a rede de desinformação profissional. Mas se não há dinheiro, é preciso usar a cabeça e a tecnologia para combater desinformação com mais informação. O tio do Whatsapp pode ser eterno, mas a indústria de fake news deveria se aproveitar dele.

* Artigo escrito em autoria com Carina Lopes, diretora do think tank Digital Future Society. É especialista em tecnologia e sociedade, com foco em empoderamento cidadão e políticas públicas.

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