Ucrânia construiu governo digital em semanas

Leia a coluna da semana de Ronaldo Lemos para Folha de S. Paulo

publicado em

9 de agosto de 2022

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Conflito na região impulsiona movimento digital e país cria coalizão entre estado e sociedade civil

Gosto sempre de repetir: todo governo terá de se transformar em plataforma digital. Governo que permanece analógico perde a capacidade de governar. A razão é simples: em uma sociedade digital, a governança precisa ser exercida também digitalmente. Não dá para governar com papel se a maior parte da população organiza suas vidas através do celular. Essa lição vale não só para a União, mas também para estados e municípios e qualquer outra entidade que exerça alguma forma de “governança”.

O desafio, no entanto, é como fazer essa transformação digital dos serviços governamentais em plataformas digitais. Até há pouco tempo o maior exemplo disso no mundo vinha sendo a Estônia. O país adotou como lema a frase: “construímos uma sociedade digital e você também pode fazer o mesmo”. O país criou uma identidade digital verdadeira. A partir dela unificou todos os serviços públicos em um único portal, acessíveis de qualquer lugar do planeta. As únicas duas atividades que o cidadão ou cidadão precisa ainda fazer fisicamente é comprar um imóvel ou se casar. Todo o resto pode ser feito online.

No entanto, a Estônia tem perdido o posto de caso mais interessante. Um outro país insuspeito tem mostrado uma interessante capacidade de fazer transformação digital mesmo em tempos muito difíceis: a Ucrânia. Como parte do esforço envolvendo o conflito na região, a Ucrânia teve que rapidamente mover todos os serviços governamentais para o plano online.

Para isso construiu um esforço conjunto entre o Ministério de Transformação Digital e o Parlamento. Criou então uma identidade digital verdadeira parecida com a da Estônia, chamada DIIA. Essa mesma identidade pode ser também usada para assinar documentos. Em paralelo, levou 100% dos serviços públicos para dentro do celular. E o mais ousado: criou também um passaporte digital, eliminando a necessidade de carregar um passaporte físico. Algo importante em meio a um conflito internacional com grande número de refugiados.

O que chama a atenção é que tudo isso foi feito em pouco tempo. Para conseguir esse resultado a Ucrânia criou uma coalizão entre estado e sociedade civil, inclusive contando com a ajuda de voluntários. Essa coalizão foi chamada da “IT Digital Army”, o exército da tecnologia da informação, contando com nada menos que 270 mil pessoas.

Foi esse grupo que conseguiu criar uma revolução digital no governo do país em semanas, algo que em outros lugares demoram anos (ou décadas) para fazer. Dentre os serviços criados encontram-se praticamente todas as atividades da vida civil. Estão também serviços novos que têm a ver com a vida militar. Por exemplo o Evorog, que permite a qualquer pessoa reportar movimentações militares de inimigos do país pelo celular.

Antes do conflito a Ucrânia obrigava as empresas a armazenar dados em servidores locais, por razões de segurança. Agora passou a incentivar o armazenamento fora do território, em países aliados, justamente para evitar a destruição física dos dados.

Se houver vontade política e coordenação entre vários setores da sociedade é possível fazer uma revolução digital nos serviços governamentais. Com conflito em curso ou não.

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