A literacia digital é um conceito que define as capacidades e habilidades que indivíduos desenvolvem quando em contato com a digitalização, recursos informacionais e canais midiáticos. Este desenvolvimento, por mais que pareça ocorrer de forma espontânea, é respaldado por uma série de teorias e outras conceitualizações que tem como base os estudos de educação midiática e estratégias informativas de busca de dados. A regulamentação da junção dos campos da mídia, da informação e do digital trouxe como protagonistas órgãos internacionais de regulação como a ONU, a UNICEF e a UNESCO. Durante esta primeira parte do curso, será oferecido um panorama de como essas teorias e conceitos emergiram da proposta de educação libertadora e intercultural e será apresentada uma cronologia de declarações da ONU, UNICEF e UNESCO em desenvolver os conceitos que suportam as literacias digitais desde a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948.

Com o avanço das tecnologias digitais e das dinâmicas de globalização, os princípios da literacia se desenvolveram para abordar campos de conhecimento cada vez mais transdisciplinares e complexos. Na verdade, hoje já não se refere às literacias – de mídia, de informação ou digital – separadamente, mas em transliteracias que integram uma ecologia de habilidades e competências consideradas necessárias para a prosperidade digital e educacional no Século XXI. Para entender melhor o princípio das transliteracias e sua abordagem complexa, a segunda aula do curso oferecerá um panorama dos estudos da complexidade e da translação entre campos do conhecimento, tendo como principal base das referências teóricas os trabalhos de Edgar Morin, Murray Gell-Mann, Ilya Prigogine e Bruno Latour. Em seguida, será proporcionado um panorama da aplicabilidade das transliteracias e como elas afetam os currículos e recomendações educacionais internacionais tanto no Brasil quanto em outros países.

A proposta do terceiro encontro é abordar o surgimento dos termos information literacy e media literacy nos Estados Unidos e as diferentes formas e traduções que chegam ao Brasil, como competência em informação, letramento informacional, alfabetização midiática e outros, até propostas mais recentes como a alfabetização midiática e informacional e a competência crítica em informação. Então nos concetraremos neste último conceito, que serve como estímulo às ações de avaliação crítica, uso ético da informação e exercício da cidadania. Nesse sentido, o foco de atenção volta-se não apenas aos indivíduos e usuários da informação, mas também na ação coletiva e no engajamento para a garantia de direitos à privacidade, à inclusão digital e à autonomia informacional.

A desinformação é um fenômeno que ganha novos contornos nas sociedades contemporâneas graças à sua rápida disseminação na internet. A circulação de notícias falsas ou enganosas durante a pandemia de COVID-19, especialmente nas plataformas digitais que são hoje fonte primária de informação para grande parte do mundo, ressalta a importância das capacidades dos indivíduos para a avaliação crítica e o uso ético da informação. Tais práticas estruturam o conceito de “competência crítica em informação”, abordado no encontro anterior. Avançando no debate sobre a competência crítica em informação para o exercício da ética e da cidadania no mundo de hoje, discutiremos que, para alcançar o horizonte almejado, é imprescindível a obtenção de conhecimento sobre o novo regime de informação (que também engloba o fenômeno da desinformação) para a atualização do conhecimento sobre as potencialidades sociais e os limites éticos das novas práticas de busca, acesso, organização, mediação, uso e compartilhamento da informação que emergem na contemporaneidade. Abordaremos questões como vigilância, controle e monitoramento de dados pessoais, privacidade e segurança pública, uso de big data e filtragem algorítmica da informação e os fenômenos de pós-verdade, hiperinformação e desinformação nas redes digitais contemporâneas.