Do DALL·E 2 à Willy Wonka Experience

Por Ingrid Telino

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O avanço das Inteligências Artificiais Generativas (IAG) na geração de imagens visuais

Em 2022, Ronaldo Lemos em sua coluna na Folha de São Paulo fez uma previsão incisiva ao falar que a Inteligência artificial que desenha “iria” sacudir o mundo. Ainda em sua coluna, Ronaldo propôs uma experimentação com a utilização da plataforma DALL·E 2, que alegava conseguir produzir imagens fotorrealistas a partir de descrições textuais. Na época, a ferramenta tinha acabado de se tornar pública e contava com 1,5 milhão de usuários. A descrição textual feita foi a seguinte: “Professor esnobe e estúpido sentado em um cacto comendo cana de açúcar”. O resultado na época foi este:

 

Imagem criada pela inteligência artificial DALL·E 2 – Folha de São Paulo

 

O DALL·E 2 parou de aceitar novos clientes e agora temos o DALL·E 3 que está disponível  no ChatGPT Plus e da OpenAI Developer API. Em 2024, quando solicitamos  a mesma descrição textual para o DALL·E 3, temos como resultado a seguinte imagem:

 

Imagem criada pela inteligência artificial DALL·E 3 – Reprodução

 

 

O resultado de agora, de fato, pode ser entendido como fotorrealista. Nela, conseguimos perceber a capacidade de detalhismo e nuances, em comparação com o DALL-E 2 em seus primeiros passos como ferramenta pública. 

Em questão de segundos, a imagem foi produzida. Nessa nova representação, o professor agora aparenta ser um senhor de idade com bigode, usando óculos, túnica, e alguns desses elementos, fazem uma alusão direta ao velho oeste, como é o caso do  chapéu grande e da gravata. Novamente, nenhum elemento foi especificado, seguindo o experimento anterior.

É mais do que certa que essas tecnologias democratizam a criação de imagens de diversos tipos, tendo em vista que agora, a ferramenta evoluiu a ponto de não produzir apenas desenhos, como também ilustrações com diferentes técnicas e até mesmo fotografias. Acompanhada dessa evolução, estão as questões sem precedentes que vamos enfrentar no decorrer da exploração das IAG no mundo da arte. 

Em fevereiro deste ano, o evento nomeado como Willy Wonka Experience ganhou destaque no mundo todo, infelizmente, não por ser um sucesso, mas, sim, um caso de mal uso da IA Generativa. Em sua divulgação, o evento contou com imagens geradas por inteligência artificial que simulavam como seria a experiência dos seus visitantes, que se dispunham a pagar 35 libras, cerca de R$220 reais pelo ingresso. Segundo o G1, o site oficial do evento, ilustrado com as imagens geradas por IA, prometia “uma viagem recheada de criações maravilhosas e surpresas encantadoras por todos os lados”.

Outro caso importante é o do artista Boris Eldagsen, que em março de 2023 venceu o Sony World Photography Awards, mas recusou o prêmio, pois admitiu que sua arte havia sido criada através de Inteligência Artificial. Eldagsen afirmou em seu blog pessoal que sua participação tinha sido com o intuito de testar os avaliadores para saber se estavam preparados para diferenciar imagens geradas por IAG de fotografias que reproduzem a realidade. 

Nessa discussão, além de questões sobre originalidade e propriedade intelectual, estão a possível desvalorização de artistas e os usos alternativos dessas ferramentas para desinformação. É importante ressaltar que não há respostas definitivas sobre como enfrentaremos essas questões. O ponto chave é que, assim como o DALL-E 3 e outras ferramentas de IAG não pararam de evoluir, os pesquisadores e artistas não irão parar de utilizar e explorar cada vez mais essas tecnologias.

No futuro, não será mais possível distinguir entre a arte produzida por humanos e aquela criada por máquinas, mas sim se podemos conceber a arte ou a comunicação sem depender do auxílio das máquinas em sua produção e divulgação. Nesse novo cenário, o papel das máquinas não é apenas complementar, mas pode ser também provocativo, inspirador e, em última análise, uma extensão da expressão humana.

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