A geração ansiosa: como a internet afeta a saúde mental de crianças e adolescentes

Por Sérgio Branco e Celila Bottino

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Você sabia que 92,5% dos domicílios brasileiros têm internet? Esse dado foi disponibilizado pelo IBGE em 2024 e revela também que 88% da população com 10 anos ou mais utilizou a internet em 2023. É interessante analisar esses números e perceber que o crescimento do acesso à internet também resulta do aumento do número de crianças conectadas. 

 

No entanto, os riscos e perigos do ambiente digital são ainda mais evidentes quando analisamos os dados da Pesquisa TIC Kids Online do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), lançada em outubro deste ano. O estudo mostra que 93% das crianças e adolescentes estão online, sendo que 98% acessam a internet por meio de celulares. O levantamento revela, ainda, que 42% das crianças e adolescentes já presenciaram discriminação online e 29% relataram ter sido vítimas de situações ofensivas ou perturbadoras no ambiente online. Contudo, 68% dos jovens sabem identificar quando alguém está sendo vítima de bullying online e 31% buscam apoio de pais ou responsáveis em situações difíceis. 

 

A reportagem “Novos estudos revelam os graves impactos do uso de celulares por crianças”, da Revista Veja, destaca os impactos aterrorizantes para a saúde mental que aparecem nos gráficos com dados comparativos de 2022 a 2010. Nesse período, os índices de ansiedade, depressão e anorexia cresceram 134% e 106%, respectivamente. Assim, o resultado, quando não há suporte psicológico, pode ser devastador. Um levantamento da Fiocruz apontou aumento de 6% na taxa de suicídio no Brasil no período de 2011 a 2022 entre pessoas de 10 a 24 a  — o índice de mutilações cresceu 29%. Com o passar do tempo, crianças e adolescentes estão cada vez mais dependentes das telas dos celulares, expondo-se a problemas comportamentais, emocionais e físicos, como impactos na saúde ocular, alimentação menos saudável e transtornos de imagem. É o que aponta uma série de pesquisas ao redor do mundo, em um movimento que ganhou dimensões globais com o lançamento do livro “A Geração Ansiosa”, de Jonathan Haidt.

 

Em seu best-seller, Haidt apresenta pesquisa sobre a infância hiperconectada e como o uso excessivo da tecnologia tem causado um crescimento expressivo das taxas de depressão, ansiedade e outros transtornos mentais desses grupos. A Companhia das Letras, destacando a relevância do tema abordado pelo autor, disponibilizou em sua página o folheto de “A Geração Ansiosa”, que apresenta de forma didática e concisa os assuntos do livro. Nele, o autor reflete sobre o uso de tecnologias, a importância do brincar – um ponto que Haidt ressalta diversas vezes –, a independência das crianças e a importância das interações na vida real, sendo um material educativo essencial para pais, professores e responsáveis.

 

Haidt também mantém um site homônimo ao seu livro, onde apresenta a problemática discutida e soluções para reverter essa situação. Ele sugere, por exemplo, que pais e responsáveis ajudem as crianças, limitando a idade de acesso a celulares e redes sociais, além de incentivar a troca de tempo de tela por tempo de vida real e responsabilidades que permitam às crianças brincar e interagir socialmente.

 

No podcast “Good Inside With Dr. Becky”, Jonathan Haidt foi convidado a falar sobre seu livro “A Geração Ansiosa”, abordando temas como o impacto dos celulares e das redes sociais na vida das crianças e a importância de uma infância pautada em brincadeiras e convívio social para a saúde mental dos jovens. O psicólogo destaca ainda que, embora os responsáveis muitas vezes sejam superprotetores na vida real, acabam negligenciando a “vida online”, onde os riscos são igualmente grandes.

 

O tema apresentado por Haidt é tão relevante que, além do livro, recebeu destaque em diferentes mídias. A livraria Bertrand, por exemplo, fez uma análise sobre “A Geração Ansiosa”, introduzindo o tema aos leitores e ressaltando os pontos positivos do livro. Da mesma forma, a revista Exame destacou a importância da discussão e refletiu sobre se essa questão vai além de uma crise “tecnológica” ou se representa uma resposta das novas gerações às mudanças da era digital.

 

Em maio de 2024, o programa “Fantástico”, da TV Globo, também abordou o tema em um podcast. No episódio, Renata Capucci e Maria Scodeler receberam a correspondente internacional Carolina Cimenti e o pediatra Daniel Becker para falar sobre o excesso de telas entre crianças e adolescentes. Becker discute principalmente questões de saúde desses jovens, como privação de sono, vício, dificuldades de aprendizado e problemas de saúde física e mental. Cimenti comenta sua entrevista com Haidt e a importância de uma infância pautada em brincadeiras no mundo real, reconexão com os pais, os amigos e os espaços coletivos. 

 

Se essas indicações despertam ainda mais o seu interesse sobre o tema, mergulhe no curso: Geração Ansiosa: O Efeito das Redes Sociais na Saúde Mental. Essa formação é uma oportunidade para ampliar a rede de proteção para crianças e adolescentes no ambiente online e uma chance de aprofundamento para pais, educadores, psicólogos, profissionais de tecnologia e todos os interessados em entender e enfrentar os desafios do uso de dispositivos digitais desde a infância. Uma das professoras do curso, a pesquisadora e jornalista Januária Cristina Alves, publicou um artigo no Nexo Jornal sobre a importância das redes de proteção online e offline para crianças.  

 

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